quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Crítica: Tá Chovendo Hambúrguer



Tá Chovendo Hambúrguer (Cloudy with a chance of meatballs) é, até certo ponto, uma divertida animação, dirigida por Phil Lord e Chris Miller. Porém, depois de algum tempo o filme, que é uma adaptação do livro infantil homônimo de Judi Barrett, fica um tanto quanto indigesto. Mais americano é impossível, com a sua ode à gula.

Tá Chovendo Hambúrguer é centrado na vida de Flint Lockwood, um cientista bem intencionado cujas invenções são (meio) desastrosas. Zoado desde criança, pelos colegas de escola, Flint não desiste de criar algo realmente útil para todo mundo. Vivendo numa pequena ilha, chamada Swallow Falls, na costa americana, onde o único tipo de alimentação é a sardinha, o jovem cientista decide mudar esta dieta, inventando uma máquina capaz de transformar água em alimento. Logo os insaciáveis moradores começam a dar asas à gula e a engenhoca, sobrecarregada de informações, acaba entrando em pane e comprometendo a segurança dos moradores.


Transformar o céu num grande fast food parece ser um sonho tipicamente americano e o que fazer com as sobras um pesadelo do resto do mundo. A princípio a animação em 3D parece até uma resposta ao excelente documentário Super Size Me – A Dieta do Palhaço (EUA, 2004) do diretor Morgan Spurlock, que critica os fast foods com sua comida insuportavelmente calórica. Enquanto o documentário adverte para os cuidados com a alimentação, o desenho parece sugerir o contrário, tendo como meta a comida em busca da felicidade. Tá Chovendo Hambúrguer não deixa claro se é uma ode ou uma crítica à gula. Nem tão pouco se, ao se tornar viva, esta comida é um alerta transformador ou mero efeito de animação em busca do riso fácil. Na pequena ilha, renomeada de Chewandswallow, apenas um personagem com problemas de excesso alimentar é punido, mas não exatamente por isso.

Vale lembrar que, da recente safra de animações, outras duas também falam de comida: em Ratatouille (ganhador do Oscar de 2008) há um rato, com apurado olfato e sensibilidade para fazer as mais diferentes combinações de alimentos, que sonha em se transformar num grande chef; em O Corajoso Ratinho Desperaux, uma ratazana, não resistindo ao saboroso cheiro, cai dentro da vasilha de sopa e provoca uma tragédia em todo o reino. Ou seja, nas três animações a comida conduz os personagens à glória ou à perdição. Mera coincidência? Não custa (?) esperar pela sobremesa!


A busca do sucesso na vida profissional é um direito de todos. Porém, se a fama é “algo” que transforma o ser humano, qual é o preço a pagar quando ela chega prematuramente ou vai embora inesperadamente..., ou vice-versa? Várias facetas da fama, bem como comodismo, rejeição, bullying, aparecem em Tá Chovendo Hambúrguer, mas sem muita profundidade, já que não conseguem concorrer com o produto principal. Longe da graça e do perfil psicológico dos personagens de Desperaux, o desenho de Tá Chovendo Hambúrguer é legalzinho, mas nada muito original. Chega a lembrar os personagens de Ratatouille. Pode ser birra, mas a caracterização de um policial negro, retratado num misto de gorila com chimpanzé, que, em vez de andar, pula e rodopia de um lado pro outro, além de ser muito brabo, me incomodou.

Tá Chovendo Hambúrguer, com sua dose de inocente sujeira, escatologia infantil e humor negro, tem tudo pra agradar, principalmente as crianças que têm um estômago no lugar do cérebro.


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