sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Crítica: É Proibido Fumar


É Proibido Fumar
cinema brasileiro de qualidade

Pra quem acredita em vida inteligente no cinema brasileiro (e, principalmente, pra quem não acredita) a dica vai para o formidável É Proibido Fumar (É Proibido Fumar, Brasil, 2009), de Anna Muylaert.

O roteiro é simples (mas não é simplório) e Anna Muylaert sabe (como poucos) o que quer contar e como dirigir esta história que fala de Baby (Glória Pires) que ama Max (Paulo Miklos). Ela é uma professora de violão que mora num apartamento herdado da mãe (repleto de móveis e plantas) e que tem a sua rotina e libido alteradas com a mudança de um músico no apartamento ao lado. Ele é um cara meio desligado, gosta de rock, mas ganha a vida tocando sambão numa churrascaria. Baby é solteira e fumante compulsiva, vive em pé de guerra com as irmãs e ainda sonha com a felicidade de um relacionamento amoroso. Max odeia cigarros e não quer compromissos sérios. Por ele Baby é até capaz de parar de fumar...

Ao contrário do que faz pensar o título, o filme nem rela em campanhas anti-fumo. Mas toca, sem ser piegas e com bom humor e algum drama, na ferida da solidão, na necessidade humana (?) do outro (nem que seja pra discutir/brigar) em relacionamento pra toda uma vida ou pra um instante. O solitário é um deserto, cercado pela sua própria miragem no infinito e além, ou é uma ilha, cercado de quinquilharias por todos os lados. Tenha ou não a Natureza alguma coisa a ver com isso. O mundo real de um solitário é quase tão intransponível quanto o mundo feminino. O solitário quer algo palpável e não decorativo. Porém, na falta de um, a disponibilidade recai sobre o outro. Muylaert trabalha muito bem esta questão do ser duplo, ensimesmado, alheio ao mundo ao seu redor..., rodeado de quinquilharias ou de miragens. E dos que ainda não se reconhecem no próprio reflexo.

É Proibido Fumar (felizmente não é um filme cabeça/umbigo) tem todos os ingredientes pra agradar o público (formar platéia pro cinema brasileiro) com uma narrativa que começa leve, descompromissada e vai ganhando um clima de suspense (o ciúme lançou sua flecha preta... - Caetano Veloso) e chega ao clímax com uma virada espetacular. É um romance possível, com uma gente comum cheia de sonhos, desejos e frustrações. Uma história boa de se ver e de se deixar envolver, muito bem embalada com excelentes atuações dos protagonistas (até mesmo de Paulo Miklos) e dos muitos coadjuvantes. Sem dúvida, um excelente produto cultural a serviço da diversão e ao alcance (inclusive intelectual) de qualquer espectador e com muito fôlego para um grande diálogo sobre o fazer cinematográfico.

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