sexta-feira, 4 de junho de 2010

Crítica: Marmaduke


Marmaduke
simpático pra cachorro

Tem ator (atriz) que odeia contracenar com crianças e, principalmente, com animais, só porque eles (realmente) roubam a cena até de quem não é canastra. Owen Wilson e Richard Gere que o digam. Recentemente tivemos dois grandes exemplos (entre outros) de que os cães são mesmos danados. Um bom momento foi no divertido Marley e Eu (Marley & Me, 2008) e, depois, no emocionante Sempre ao Seu Lado (Hachiko: A Dog's Story, 2009).

O primeiro, baseado no best-seller homônimo de John Grogan, é dirigido por David Frankel e mostra o “caos” em que se torna a vida do casal John (Owen Wilson) e Jennifer (Jennifer Aniston), que, antes de ter um filho, decide adotar um filhote de cão labrador, se esquecendo que até os cachorros um dia crescem e, com eles, os “problemas”. No segundo, com direção de Lasse Hallström (refilmagem de Hachiko Monogatari, filme japonês dirigido por Seijiro Koyama, em 1987, baseado em um fato real ocorrido no Japão na década de 1920), traz Richard Gere na pele de Parker, um professor de música que encontra um filhote da raça akita, perdido numa estação de trem, e o leva pra sua casa. O belo cão que, segundo a tradição, escolhe o seu dono, ganha o nome de Hachiko e cria um maravilhoso vínculo com o Parker, que perdura além da vida.

Agora, apostando no público infantil e nos amantes dos cachorros, chega a comédia Marmaduke, dirigida por Tom Day, que narra as aventuras de um desastrado dog alemão com a família humana Winslow, no Kansas, e, depois com dois grupos de cães, separados por raças e pedigrees, na Califórnia. Marmaduke, narrado na primeira pessoa (?), é uma espécie de cinebiografia canina inspirada na História em Quadrinhos homônima, criada em 1954, pelo cartunista norte-americano Brad Anderson, que virou uma série animada pra TV (Heathcliff and Marmaduke), na década de 1980.

Já não me lembro da animação Heathcliff and Marmaduke (Lorde Gato). Das tirinhas de humor (que até hoje são publicadas nos EUA) conheço apenas as imagens postadas na rede, que me parecem muito divertidas, irreverentes, nonsense. Marmaduke, o filme, pode não ter conseguido captar humor estranho da HQ, mas não chega a ser tão decepcionante como o chato Scooby Doo ou o Garfield, que perderam a personalidade no cinema. Acho que está mais próximo (ainda que distante) do meu favorito Um Cão do Outro Mundo (Good Boy!, 2003), dirigido por John Robert Hoffman, que trata de uma canina invasão extraterrestre.


Focado na vida adolescente do imenso e desengonçado dog alemão, que se apaixona pela bela Jezebel, uma cadela afghan, namorada de um trunculento rottweiler (?), o alfa do Parque, onde a rapaziada canina vai passear, Marmaduke segue a linha das produções americanas que falam de adolescentes que mudam de cidade e encontram dificuldades pra se enturmar. Cães ou humanos, os problemas estão todos lá e deverão ser superados, um a um, até que o nosso “herói” cresça e aprenda com os seus próprios erros que, cá pra nós, conforme a raça e a idade, não passam de uma simples pisada na bola. E, assim, a cada tropeço, escada acima, ou escorregão, ladeira abaixo, há um momento para refletir e enaltecer a família e os (verdadeiros) amigos. Valores humanos de um lado e valores caninos de outro, é bom que se diga que, na trama, a lenta família Winslow é mera coadjuvante. Poderia até se chamar Windows, já que não passa de janelas abertas para Marmaduke brilhar.

Marmaduke é uma comédia simpática, apesar dos deslizes de situação “cômica”, de digitalização (animação) e do excesso de preceitos morais pra lá de humanos. Mas deve agradar ao seu público alvo. Os cães reais são bem treinados e propiciam alguns momentos engraçados e românticos, graças também à ilha de edição. No entanto, faltou ao diretor (e roteiristas) acreditar mais na força da imagem e síntese dos cartuns. É claro que uma coisa (cartum) é uma coisa e outra coisa (filme) é outra coisa, porém, entre o explícito e a falta de sutileza, acaba se perdendo a piada. Aí, ao colocar a raça canina agindo tal e qual a humana, no melhor e no pior da convivência familiar e grupal, a ironia acaba indo esgoto abaixo. E, na busca do humor vazio, honestamente, crianças e adultos bem que podiam ser poupados dos indigestos clichês humanos de escatológicas comédias humanas realizadas por humanos americanos!

Bem, quem não gostou da tecnologia usada na animação UP – Altas Aventuras (2009), pra fazer os cães se comunicarem com os humanos, pode muito bem gostar desta, em que os cães e gato, parecem mesmo falar. Quer dizer, desde que não se importe com a dublagem horrorosa. Como se tivesse outra opção!

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