quarta-feira, 9 de junho de 2010

Crítica: O Golpista do Ano


O Golpista do Ano
ou: Eu te amo, Phillip Morris

Eu Te Amo, Phillip Morris, que no Brasil recebeu o execrável título de O Golpista do Ano, pode deixar muito espectador em sauna justa, digo saia justa, se for fã do trio protagonista e entrar no cinema esperando ver uma coisa e assistir a outra. Tem tudo para agradar até quem ainda não decidiu sair do armário, mas, se o desavisado tiver tendências homofóbicas, vai querer receber o seu dinheiro de volta. É que o híbrido filme dos roteiristas e diretores John Requa e Glenn Ficarra conta a história realmente verdadeira de Steven Russell (Jim Carrey) e seus absurdos e inacreditáveis golpes para viver uma vida glamorosamente “gay, gay, gay”. Esqueça A Gaiola das Loucas (1978) ou Priscila, A Rainha do Deserto (1994), porque aqui a pegada é bem diferente.

Rebombinando: O Golpista do Ano (I Love You Phillip Morris, França, EUA, 2009), dirigido pelos politicamente incorretos Requa e Ficarra, é um filme que desfila pelos mais variados gêneros cinematográficos: biografia, comédia, drama, policial, prisão, para narrar a espetacularmente complicada e turbulenta vida de Steven Russel (Carrey): um bom policial, bom marido, bom pai de família, bom religioso que, após um grave acidente, decide assumir a sua homossexualidade. Parece simples, não? Acontece que Russel acredita que a felicidade gay está em ser fashion. E para viver no luxo, o faustoso personagem decide aplicar “inocentes” golpes em seguradoras. Bem, como uma mentira sempre puxa outra a reboque, acaba exagerando na dose e nos presentes para a ex-mulher e filha e para o seu namorado Jimmy Kemple (Rodrigo Santoro) e vai parar num presídio, onde se apaixona por Phillip Morris (Ewan McGregor), um prisioneiro ingênuo e romântico. E isso é só o começo do drama narrado pelo próprio Steven Russel, em seu leito (hospitalar) de morte. A ironia, o sarcasmo, a inversão de valores que vem depois..., é ver pra crer.


Baseado na biografia de Steven Russel, publicada no livro Eu te Amo, Phillip Morris (I love you Phillip Morris: a true story of life, love, and prison breaks), do jornalista Steve McVicker, lançado no Brasil pela Editora Planeta, o filme lembra (a princípio) dois outros grandes momentos cinematográficos, envolvendo golpistas brilhantes: Prenda-me se for capaz (Catch Me If You Can, 2002), de Steven Spielberg, com Leonardo DiCaprio, no papel de Frank Abagnale Jr, que aos 18 anos era um mestre na arte dos disfarces e dos golpes milionários; e Os Safados (Dirty Rotten Scroundels, 1988), dirigido por Frank Oz, onde Michael Caine (Lawrence Jamieson) e Steve Martin (Freddy Benson) são dois vigaristas que seduzem milionárias de meia idade – refilmagem de Dois Farristas Irresistíveis (Bedtime Story, 1964), direção de Ralph Levy, com Marlon Brando e David Niven. Porém, a lembrança é apenas por conta da malandragem, da esperteza, da classe dos golpes, já que segue por um viés bem mais incômodo.

O Golpista do Ano, que vem enfrentando problemas de distribuição nos EUA, é ferino, mordaz, com seu (involuntário) humor negro e suas cenas de sexo semi-explícito. Ele traça um painel divertidamente triste de um mundo (nem sempre) alegre, como fazem parecer os homossexuais que se assumem e botam o bloco na rua, na boate, na moda..., mas que, na maioria das vezes, fora do armário, se veem obrigados a suprir uma carência (principalmente) afetiva com agrados além das posses e da pose. Russel “viveu” tantas personas, em busca do prazer e da felicidade (também de quem amava) que, a certa altura, não tinha mais certeza de quem realmente era. Porém, o mais importante, sabia “quem” não queria ser.

Não é um filme linear e nem tão pouco clichê. Assim como o roteiro, a direção provoca o espectador e, ao mesmo tempo em que o diverte, o adverte sobre arraigados conceitos e preconceitos da (homos)sexualidade. Sem deixar de cutucar a religiosidade, família, negócios, amizade. Quem resistir ao “chocante” prólogo vai se surpreender com Jim Carrey, exercitando todo o seu talento dramático e cômico, na companhia de Ewan McGregor, ator que personifica Phillip com uma sutileza arrebatadora, e de um competente Rodrigo Santoro que, mais uma vez, não entra mudo, mas sai de cena de forma dramática. É um excelente programa (sem trocadilho) pra quem gosta de variar (sem queimar) o filme e costuma deixar o puritanismo trancado na gaveta do criado mudo.

4 comentários:

  1. O filme é exatamente tudo o que você escreveu e mais um pouco. O mais um pouco fica para quem for ao cinema. Eu já vi, e na minha sessão alguns desavisados saíram pelo meio do filme. Mas os muitos jovens que estavam lá ficaram até o final e surpreendemente quietinhos, o que quer dizer muita coisa.
    A atuação brilhante e corajosa de Carrey vale o filme, falar de Ewan McGregor é chover no molhado.
    E o roteiro é fantástico, o filme é uma espécie de O Sexto Sentido em versão gay.
    Praticamente um filme sobre homossexuais feito para heterossexuais assistirem, mas hetéros de mais de 16 anos e sem problemas com a sua sexualidade.
    O Golpista do Ano, oh título ruim, vale a pena ser visto, corram antes que o próximo filme da Saga Crepuscúlo tome conta de todas as salas de cinema.

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  2. É isso, Antunes.
    O apressado sai nu.
    Quem fica, na moda ou não,
    acaba de divertindo.
    E é capaz até de rever
    os seus pré conceitos.

    Só não entendi (ainda)
    a história do Sexto Sentido Gay.

    Abs.

    T+
    Joba

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  3. É uma espécie de O Sexto Sentindo gay às avessas. Se vou explicar mais acabando entregando o filme para quem ainda não viu.

    E mudando de saco pra mala, gostaria que você escrevesse sobre O Escritor Fantasma, que embora já tenha estreiado, eu quero ver qual a sua opinião sobre a película.

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  4. Olá, Antunes.
    Depois vc. explica.
    Vou tentar ver hoje ao O Escritor Fantasma.

    Estou com várias matérias pra postar.
    Estava com problemas no PC.
    Se não aparecer nenhum outro problema
    acho que até na semana que vem atualizo.

    Grande abraço.

    T+
    Joba

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