segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Crítica: Sempre Bela (Belle Toujours)


Sempre Bela (Belle Toujours)

O excêntrico drama (?) Sempre Bela (Belle Toujours, França, 2006), dirigido por Manoel de Oliveira, se propõe uma “sequência” ao A Bela da Tarde (Belle de Jour, França, Itália, 1967) de Luis Buñuel (1900-1983), escrito em parceria com Jean-Claude Carrière..., mas acaba ficando apenas na vontade. A história, com um roteiro frouxo e diálogos insípidos, narra um (inconvincente) reencontro (40 anos depois) entre Henri Husson (Michel Piccoli) e Séverine Serizy (Bulle Ogier), personagens de Belle de Jour, com o próprio Picolli e Catherine Deneuve, que não se interessou em reviver o depois de Séverine.


A trama parece mais um fruto de esparsas lembranças daquele polêmico filme lá (bem) atrás, já que tanto a (re)construção de Husson quanto de Séverine resultaram em bonecos ocos e desinteressantes. Piccoli, que não teve problemas em se revestir de Henri Husson, sai do passado para voltar à cena e perversamente infernizar a vida de Séverine, com a promessa de uma revelação que vai dar paz ao espírito da velha senhora. Ele a vê num concerto de música clássica, onde a orquestra executa a Sinfonia nº 8 de Anton Dvorak, e a perde na saída do teatro. Alguns subornos, fofocas e coincidências depois, ele a encontra e marca um encontro para (finalmente) lhe dizer se contou ou não (ao marido dela) sobre a sua traição. Pra quem não de lembra ou desconhece, Belle de Jour, traz a belíssima Catherine Deneuve na pele de Séverine Serizy, uma dona de casa que trai o marido, passando suas tardes num bordel, em busca de prazeres sexuais.


Com prólogo, capítulos e epílogo (em aberto), Sempre Bela funcionaria melhor num palco de teatro. No cinema os velhos (e novos) personagens não inspiram a menor simpatia e nem despertam qualquer curiosidade. E isso não tem a ver com a forma vagarosa do diretor contar histórias e muito menos com a sua constante câmera fixa, um exercício que (às vezes) resulta em planos formidáveis. Os coadjuvantes (prostitutas e barman) do bar, onde o chato alcoólatra Husson vai encher a cara e fofocar sobre o passado, são insossos e repetitivos. Aliás, o que não falta em Sempre Bela é a repetição de texto. Como se não acreditasse que o espectador entendeu a primeira fala, mexe e vira lá vem ela de novo e de novo. Com uma referência aqui e outra acolá, ao filme do mestre Buñuel, percebidas apenas por cinéfilos expertos, a narrativa de Oliveira se arrasta, sem muita graça, por 68 minutos. O que fica desta “homenagem” fugaz (realizada com câmera fixa) é apenas a antológica sequência do jantar, à luz de velas, com uma ótima coreografia dos garçons, ruídos de talheres e mastigação da comida, sem nenhuma fala, por uns 10 minutos.


Confesso que não sou lá grande fã de Manoel de Oliveira. Os seus filmes nunca me tocaram da mesma forma exaltada que parece tocar a muitos críticos. A propósito da câmera fixa (que em Sempre Bela tem bons momentos), em uma entrevista coletiva, durante o 59º Festival de Berlim, publicada no site otempoonline, em 11/02/2009, Manoel de Oliveira, que é sempre questionado sobre o uso de tal recurso, disse: "Quando os Lumiére faziam fotografias, que eram imóveis, a ânsia deles era que as pessoas se movessem nessa fotografia. É exatamente como acontece quando se projeta um filme no cinema: a tela está sempre parada, mesmo que a câmera corra muito." Sobre ação e movimento ponderou: "Ser simples quer dizer também ser claro. Se movimento muito a câmera, estou a distrair. Ser claro é trazer à superfície o que é mais profundo. Ser realista é não fugir das possibilidades da câmera."

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