terça-feira, 19 de abril de 2011

Crítica: A Garota da Capa Vermelha


Se ao ouvir falar de Chapeuzinho Vermelho você logo se lembra daquela musica do Braguinha (1907-2006): Pela estrada afora eu vou bem sozinha/ Levar esses doces para a vovozinha/ Ela mora longe e o caminho é deserto/ E o lobo mau passeia aqui por perto/ Mas à tardinha, ao sol poente/ Junto à mamãezinha dormirei contente, cantarolada pela garota, na sua adaptação do conto dos Irmãos Grimm, esqueça! A Garota da Capa Vermelha (Red Riding Hood, EUA, 2011), dirigido por Catherine Hardwicke, traz a menina de capuz vermelho, a estrada, a floresta, a vovozinha, o lobo, o lenhador..., só que numa linguagem adolescente, longe da versão infantil conhecida e (apesar de alguns resquícios) também distante do conto de Perrault. A história de Chapeuzinho Vermelho tem várias versões e, talvez, pela diferença de foco e público, as duas mais famosas são a (violenta e sem final feliz, aliás, sem final) recolhida por Charles Perrault (1628-1703), publicada em 1697, e aquela amenizada pelos Irmãos Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859), que todos conhecem nos dias de hoje, com um final pra lá de feliz, menos para o lobo. A narrativa que chega às telas prefere caçar (níquel) na espinhosa floresta do cinema (recente) que generaliza a mitificação do “feio”.


Se em Chapeuzinho Vermelho a mensagem (subliminar?) é para que as crianças (principalmente as meninas) não falem com estranhos, em A Garota da Capa Vermelha a mensagem (subjetiva?) é para que as adolescentes tomem cuidado com a aparência de quem quer que seja. É que, quem vê cara, não vê maldição. Conforme o roteiro de David Leslie Johnson, a aldeia de Daggerhorn, onde Valerie (Amanda Seyfried) mora com seus pais Cesaire (Billy Burke) e Suzette (Virginia Madsen), é um lugarejo que vive uma estranha trégua com um lobo que, todos os meses aparece para aterrorizar os moradores e recolher um animal deixado em sacrifício para ele. Valerie é apaixonada pelo lenhador Peter (Shiloh Fernandez), mas, no dia em que seus pais acertam o seu noivado com o fundidor Henry (Max Irons), mortes estranhas começam a acontecer na aldeia, mudando o rumo dos acontecimentos e a vida de todos. Para piorar, quem chega para desvendar os assassinatos, é o Padre Solomon (Gary Oldman), um Santo Inquisidor, com os seus Cruzados, transformando o conto na lenda do lobo doido.


A Garota da Capa Vermelha é um filme óbvio para românticas adolescentes consumidoras de seres crepusculares (vampiros) e genéricos (anjos, lobisomens), apesar da sua antropofágica trama não convencer no romance e muito menos no suspense pífio. O apelo “erótico” se basta nuns dois três beijinhos, uma roçadinha, olhares tortos e insinuação sexual (com direito a uma abominável simulação de estupro homossexual). O famoso lobo, gerado por computação gráfica, é amadoristicamente ridículo, mal feito. As suas ações (ataques e movimentos truncados) são risíveis, de tão ruins. Por conta disso, não se pode dizer que o filme não tem humor. Excetuando a fera, são dignos de nota a fotografia, direção de arte e figurino. Quanto ao belo elenco jovem, ele é apenas bonito, por enquanto. Já os mais viajados, como Gary Oldman e Julie Christie (Vovó), fazem o combinado e pronto.


A produção juvenil cumpre as normas da nova cartilha norte-americana e opta por não mostrar vestígios maiores de sangue, em cenas de violência explícita, para não causar constrangimento nos espectadores mais sensíveis. O que não é o caso, aqui, pois mal se vê o ataque do gigantesco lobo e ou as feridas causadas. No entanto, mesmo não optando pela sanguinolenta versão de Perrault ou a (quase) inocente dos Grimm, para quem insistir na lembrança da canção de Braguinha: Eu sou o lobo mau, lobo mau, lobo mau/ Eu pego as criancinhas pra fazer mingau/ Hoje estou contente, vai haver festança/ Tenho um bom petisco para encher a minha pança, vai ver que, no final, o lobo também faz a sua papinha, mas não de criancinha. A garotada pode até não sentir medo durante todo o filme insosso, mas nessa hora vai ter indigestão. Isso é, se entender de comida macabra!

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