quarta-feira, 20 de abril de 2011

Crítica: HOP - Rebeldes Sem Páscoa















O mês de abril vai chegando ao fim com o lançamento de HOP - Rebelde Sem Páscoa, uma produção em live-action/animação (mistura de atores reais com animação) que deve agradar a garotada dos 5 aos 12 anos.

HOP conta a história de Junior, um coelho adolescente que prefere passar o tempo tocando bateria, a ter que se preocupar com a fábrica de doces e ovos de chocolate, do seu pai, o Coelho da Páscoa. O jovem é filho único e quer se dedicar à carreira de músico, mas o velho Coelho espera que ele assuma o seu lugar e continue a produzir as doçuras pascais, na Ilha da Páscoa, que serão distribuídas em todo o mundo. Enquanto isso, em Los Angeles, um homem de 30 anos, Fred Lebre (James Marsden), vive uma crise sem fim, com a sua família, por estar constantemente desempregado e não ter a menor ideia do que quer fazer na (e da) sua vida. Em busca do sucesso pessoal, Junior foge para Los Angeles e o destino se incumbe de juntar ele e Fred, numa louca aventura. A estranha amizade, entre um humano e um coelho, vai fazer com que os dois acabem descobrindo o lugar de cada um no mundo real.


HOP - Rebeldes Sem Páscoa (HOP, EUA, 2011), de Tim Hill, baseado em história e roteiro de Cinco Paul e Ken Daurio, tem uma narrativa simples e de fácil compreensão pelo público (alvo) infanto-juvenil, mesmo que ainda não esteja na fase de “duelar” com os pais sobre o seu futuro profissional. Há uma certa manipulação (ou seria preocupação?) de valores a favor da tradição, família e patrimônio, meio que travestida de egoísmo, intolerância e incompreensão (tanto filial quanto paternal), que passará batida pela criançada, mas servirá aos pais como reflexão sobre o ter e ser filho. Sempre que penso em filhos presentes e futuros, me lembro de Os Filhos, o fabuloso texto de Gibran Kalil Gibran (1883-1931), publicado em O Profeta: Uma mulher que carregava o filho nos braços disse: "Fala-nos dos filhos." E ele falou: Vossos filhos não são vossos filhos./ São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma./ Vêm através de vós, mas não de vós./ E embora vivam convosco, não vos pertencem./ Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,/ Porque eles têm seus próprios pensamentos./ Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;/ Pois suas almas moram na mansão do amanhã,/ Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho./ Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,/ Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados./ Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas./ O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força,/ Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe./ Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:/ Pois assim como ele ama a flecha que voa,/ Ama também o arco que permanece estável.


HOP tem uma animação primorosa, muito colorida e, praticamente, irretocável. Os personagens animados (coelhos e pintinhos) são simpáticos e graciosos. Porém, o mesmo não se pode dizer dos caricatos personagens do “mundo real”. Apesar do avanço tecnológico, a mistura de humanos com seres animados (ainda) causa desconforto visual. Um ator adulto, de carne e osso, sabe que vai sempre estar em desvantagem ao contracenar com uma criança ou animal real. Dividir a cena com um fofinho personagem animado, então, é covardia. O sujeito pode até botar banca de protagonista, mas vai ser mero coadjuvante, já que os seres animados são mais interessantes e (é ilusório mas) parecem mais “reais” que ele. O filme tem clichês suficientes para agradar o espectador infantil (correria, vilania, humor bobo, doces, piadas escatológicas), mas não acredito que o acompanhante adulto (ou adolescente) desembarque feliz nesse universo fantástico. Quanto ao significado mitológico (anglo-saxão) e religioso (judaico-cristão) da Páscoa, o filme sequer toca no assunto, preferindo manter o foco na característica mais comercial, digamos assim, da data: consumo de ovos de chocolate. Quer dizer, em dado momento, um dos personagens (da família Lebre) até aparece pintando os tradicionais ovos de galinha, criando as famosas Pêssankas (ucranianas), mas sem maiores explicações sobre o seu simbolismo.

A animação tem potencial para ser bem mais do que é, não fosse a preguiça criativa dos seus realizadores. Em se tratando de arte cinematográfica (entre outras) nem sempre falar menos resulta em mais. Dependendo da competência de quem fala, não sai do zero.

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