segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Crítica: Meu País


Meu País, longa de estreia de André Ristum, ao contrário do que possa sugerir o título (que tanto pode aguçar a curiosidade e ou afastar de vez o espectador) não tem nenhuma conotação sócio-política (sequer fictícia) relacionada ao Brasil. A sua trama gira em torno de Marcos (Rodrigo Santoro) um empresário que mora na Itália e raramente se comunica com a sua família brasileira, o pai Armando (Paulo José) e o irmão Tiago (Cauã Reymond). Entretanto, com a morte do pai ele se vê obrigado a voltar ao seu país de origem, para colocar ordem nos negócios da família, e se depara com um irmão perdulário e um imbróglio complicado: Manuela (Débora Falabella), uma irmã (com deficiência intelectual), que não sabia existir e que vive internada numa Clínica. 

Recentemente premiado no 44°. Festival de Cinema de Brasília do Cinema Brasileiro: diretor (André Ristum), ator (Rodrigo Santoro), montagem (Paulo Sacramento), trilha sonora (Patrick de Jongh) e Juri Popular, Meu País é um drama familiar intenso e idílico, cuja concepção lembra o cinema gaúcho e italiano. Talvez pelo distanciamento dos personagens (frios) e seus dramas familiares, que estão mais próximos da literatura do que da novela (costumeira no cinema). Apesar do bom ritmo narrativo e da curiosa história, não há clima para o envolvimento do espectador que (também) não se reconhece na tela. É com se ele estivesse passando por algum lugar e ouvisse pedaços de um relato, sem muito detalhamento, e captasse apenas a essência do que esta sendo dito. O que pode ser melhor que a prosa inteira. Ou um fiasco. 


Na trama proposta pelo roteiro de Ristum, Marco Dutra e Octavio Scopelliti, o público tem pouca ou nenhuma referência sobre o comportamento dos personagens, e sairá da sala sem nenhuma resposta à sua dezena de por quês. É claro que poderá conjecturar durante todo o filme, por conta de um olhar, gesto e ou sequencia intempestiva, e concluir a história como quiser. Porém, num enredo (econômico) que só tem o meio, ele terá que conceber um princípio e um fim. O que não deixa de ser interessante para alguns espectadores, mas incômodo para a maioria que gosta de tudo explicadinho. 

Segundo André Ristum, o “Meu País” do título refere-se ao “país interior” de Marcos. Ou seja, tem mais a ver com sentimentos familiares do que com ufanismo (para o bem ou para o mal). Se o país físico (chão) confunde-se com o país afetivo (família), Marcos deve ser um sem-pátria. A ternura (se muito) só lhe é possível através da deficiência da irmã e da eficiência da esposa Giulia (Anita Caprioli), que o acompanha, mas se sente estrangeira nos braços do marido que se sente estrangeiro no seio da (própria) família que vive de aparências. Egoístas e egocêntricos, cada irmão é “um país” em vias de explosão, enquanto Manuela é um “mundo novo”, um estorvo que pode acirrar a disputa pelo “território alheio”, ou ser o “país neutro” da conciliação. 


O ponto em comum, entre os três, é a identidade perdida de cada um. A linha entre o “cuidar” e o “amar” é tênue e “cuidar” não que dizer, necessariamente, “amar”. Os irmão sabem que afeto (perdido) se (re)conquista, mas não se obriga. Partir ou ficar pode ser muito mais que uma metáfora. O que lembra uma antiga canção: O amor é o meu país (Ivan Lins / Ronaldo Monteiro De Souza), de 1970: Eu queria, eu queria, eu queria/ Um segundo lá no fundo de você/ Eu queria me perder, ah! me perdoa/ Porque eu ando a toa sem chegar/ (...) Quão mais longe se torna o cais, lindo é voltar/ É difícil meu caminhar, mas vou tentar/ Não importa qual seja a dor,/ Nem as pedras que eu vou pisar/ Não me importo se é pra chegar/ Eu sei, eu sei/ De você fiz o meu país/ Vestindo, festa e final feliz/ (...) Eu vi, eu vi/ O amor/ É o meu país/ (...) Sim, eu vi/ O amor/ É o meu país. 

O diferencial de Meu País está no seu foco narrativo, que conta com direção segura e um elenco (contido) eficiente. O grande destaque, sem dúvida, é a excelente atuação de Rodrigo Santoro (que vem surpreendendo desde o inquietante O Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky e o belíssimo Abril Despedaçado, de Walter Salles, ambos de 2001) e a marcante participação de Paulo José. Não é um filme fácil, mas se deixa ver com um certo prazer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...