quarta-feira, 20 de junho de 2012

Crítica: Sombras da Noite



Semana passada, enquanto aguardava a vez para comprar ingresso para o espetáculo A Mecânica das Borboletas (Otto Jr e Suzana Faini estavam soberbos!), aqui em Curitiba, um conhecido comentava sobre os filmes de terror feitos hoje em dia, com os vampiros bonzinhos e bonitinhos que não metem medo em ninguém. Penso que o problema desse tipo de entretenimento, dirigido ao público infantojuvenil, não tem a ver com os malvados bonitões, mas com o conteúdo (personagens vazios e trama rasa). Afinal, a maldade nunca foi “privilégio” dos feios!

O propósito do comentário acima é por conta da estreia de Sombras da Noite (Dark Shadows, EUA, 2012), de Tim Burton, um filme na medida (?) para a geração crepúsculo e assemelhados televisivos. A ficção de Burton não é a primeira adaptação cinematográfica da série cult homônima, criada por Dan Curtis (1927 - 2006), que foi ao ar, pela rede ABC, de 1966 a 1971. O programa pioneiro na mistura de terror e ficção científica (em 1225 episódios) fez tanto sucesso na TV que, além de dois filmes: House of Dark Shadows (1970) e Night of Dark Shadows (1971), dirigidos por Dan Curtis, “inspirou” também diversos livros e HQs, para o deleite de fãs.


A versão burtoniana de Sombras da Noite traz Johnny Deep no papel de Barnabas Collins, herdeiro de um império de pesca em Collinsport, no Maine, que ao se apaixonar pela doce e bela Josette DuPres (Bella Heathcote), magoa a fogosa e não menos bela Angelique Bouchard (Eva Green), que resolve se vingar, transformando o objeto de sua paixão em um vampiro e, não satisfeita, enterrando-o vivo. 196 anos depois Barnabas está de volta e descobre que tudo naquela pequena cidade mudou, inclusive alguns parentes que agora ocupam a sua velha e decadente Mansão Collinwood: a matriarca Elizabeth Collins Stoddard (Michelle Pfeiffer), com a filha adolescente Carolyn Stoddard (Chloë Moretz); o irmão dela, Roger Collins (Johnny Lee Miller), com o filho David Collins (Gully McGrath); e ainda a psiquiatra Dra. Julia Hoffman (Helena Bonham Carter), a babá de David, Victoria Winters (Bella Heathcote), e o caseiro Willie Loomis (Jackie Earle Haley). Mas para resgatar o brilho de outrora Barnabas terá de enfrentar a poderosa Angie (Eva Green).

Sombras da Noite é uma ficção um tanto preguiçosa. A ideia original era criar o mesmo clima gótico da série, onde havia espaço para: vampiro, lobisomens, zumbis, fantasmas, monstros, bruxas, feiticeiros..., além de viagem no tempo e universo paralelo. Burton chegou bem próximo, o problema é que, o que era novidade e divertia os adolescentes nos anos 1960/1970, hoje soa ingênuo demais até para a garotada. O roteiro irregular é uma grande salada e acaba se perdendo nas encruzilhadas do terror e do humor. Até tem uma ou outra piada engraçadinha, mas não produz mais que um sorriso amarelo. Quanto ao terror..., nem um arrepiozinho. É tudo morno: drama, romance, humor, terror, suspense, ação, luxúria, libertinagem.


Excetuando a explosiva relação obsessiva entre Barnabas e Angie, há pouca ou quase nenhuma interação entre os personagens. E não é por falta de “assunto” da família decadente. A narrativa parece um canguru, saltando apressada de um “misterioso” personagem para outro, antes do público absorver cada história. Não há tempo (e nem interesse) do espectador se envolver com quem quer que seja, nem mesmo com a trama leve (de crimes sem castigo). Não fossem umas duas cenas mais ou menos tórridas (que talvez excitem a imaginação dos adolescentes), seria um filme quase infantil. Há sequências que poderiam ser hilárias, como a dos hippies (queimando uma erva) em volta da fogueira, em entrevista com o vampiro Barnabas (cujo desfecho fica longe do esperado), que perdem o tempo da piada e ou do horror.

Sombras da Noite tem uma belíssima direção de arte e efeitos especiais excelentes. A trilha sonora, que inclui grandes sucessos dos anos 1970, como Knights in White Satin, do Moody Blues, Season of the With, de Donovan, Superfly, de Curtis Mayfield, Crocodile Rock, de Elton John, Top of The World, dos Carpenters..., é muito bacana. Mas o melhor dela é, sem dúvida, a participação especial de Alice Cooper, a lenda do rock, cantando Ballad of Dwight Fry e No More Mr. Nice Guy, num show ao vivo na Mansão Collins. Por falar em Alice, o cara parece ter feito uma viagem no tempo, não envelheceu nadica. O elenco de Burton é sempre eficiente, mesmo quando roteiro não ajuda. Deep faz bem (?) mais um tipo estranho (ou uma variação de outros tipos estranhos?). Pfeiffer convence como a matriarca dos Collins (de aparência), mas quem rouba a cena é a “endiabrada” sedutora Green.  Um filme para fãs não muito exigentes de Burton e Deep.

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