sábado, 22 de setembro de 2012

Crítica: Poder Paranormal


  
Será que é possível ser original com um tema tão explorado? O diretor e roteirista Rodrigo Cortés acredita que sim: Poder Paranormal é ambivalente. É certo e incerto. Poder Paranormal é um enigma. Você pensa que está pisando num terreno sólido e então, de repente, o chão se abre sob seus pés. Poder Paranormal é um mistério indesvendável; seus personagens, um labirinto; complexos e contraditórios, em busca de si mesmos, definidos por atos e omissões, palavras e silêncios. (...) Nossas crenças são determinadas por nossas esperanças, necessidades, sonhos e desejos... Poder Paranormal propõe uma abordagem rigorosa e científica de fenômenos paranormais. É um filme de gênero com alma de thriller político, mostrando como o cérebro humano é instrumento de percepção da realidade no qual não se deve confiar. Vemos o que queremos ver. Acreditamos no que queremos acreditar.

Poder Paranormal é terceiro longa-metragem de Rodrigo Cortés, o premiado diretor de Concursante (2007) e Enterrado Vivo (2010). O drama de suspense começa com um interessante argumento (e boas intenções), que acaba não se segurando e resultando apenas mediano. Ele acompanha os passos da cética Dra. Margaret Matheson (Sigourney Weaver) e seu assistente Tom Buckley (Cillian Murphy), numa incansável busca para desvendar fraudes em eventos paranormais (domésticos e ou profissionais). Ambos guardam segredos que virão à tona com o inesperado reaparecimento de Simon Silver (Robert De Niro), um lendário e polêmico vidente cego que esteve desaparecido por 30 anos. Silver quer voltar a ser a grande estrela da paranormalidade espetáculo. Margaret acha que Simon é uma página virada. Buckley tem lá as suas razões para crer que nem tudo é o que parece nesse conturbado cenário de blefes entre a ciência e a fé.


Nos últimos três anos o cinema teve três ótimas novidades: o apavorante mockumentary Atividade Paranormal (2009); o arrepiante A Casa (2010), feito em um plano-sequência; e a genial animação ParaNorman (2012). Na TV, mexe e vira e aparece uma série, um documentário, um programa qualquer especulando o tema paranormal. Ou seja, realmente é muito difícil ser original. Mesmo assim, Poder Paranormal (Red Lights, Espanha, EUA, 2012) insiste em seguir adiante mostrando sequências óbvias e batidas para “explicar” as fraudes. O título brasileiro, é claro, quer pegar carona no ainda rendoso Atividade Paranormal..., já o original Red Lights (Luzes Vermelhas) é um código que o espectador logo descobrirá para que serve.

Cortés não tem pressa em contar a sua história. O filme pega algum ritmo na segunda parte e atropela tudo no último ato. O porquê da (desnecessária!) sequência de extrema violência (no final) é um enigma tão grande quanto a irritante musiquinha condutora de sustos. O que parecia ser um trunfo do argumento (ausência de almas penadas arrastando humanos imbecis para o outro lado da vida e ou para o inferno) vai por gosma abaixo quando, do nada, os protagonistas, até então inteligentes, racionais, frios, calculistas (e outros adjetivos clichês) começam a agir com brutalidade clichê (?). Aí, a narrativa que tinha alguma perspicácia ao lidar com o esotérico e o exotérico e desenhava um divertido “mistério” (apesar de banal), tomada de uma incômoda histeria acaba ofuscando a “grande revelação” de Tom Buckley, que não justifica tanta selvageria. Os mercadores (americanos?) parecem crer que inteligência rima mesmo é com demência.

Poder Paranormal é um filme meio: meio interessante, meio envolvente, meio satisfatório, meio sem rumo..., meio clichê. O roteiro renderia bem mais se as ironias (apenas ensaiadas) fossem levadas a sério e ou ganhassem algumas pinceladas de humor (mesmo negro). O trio protagonista dispensa comentários. 

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