segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Crítica: O Mestre



Parece que o assunto reencarnação, karma, darma..., está com tudo neste comecinho de 2013. Depois de A Viagem (de Andy Wachowski, Lana Wachowski e Tom Tykwer), é a vez de Paul Thomas Anderson especular sobre o tema, só que sob foco de seitas milagreiras e ou redentoras de todos os males do mundo, ou ao menos dos seus fiéis. 

O Mestre (The Master, EUA, 2012), escrito e dirigido por Paul Thomas Anderson, se passa logo após o fim da 2ª Guerra. O drama trata do envolvimento de Freddie Quell (Joaquim Phoenix, excelente), um ex-militar, alcoólatra, que usa os mais inusitados produtos para criar seus coquetéis “envenenados”, e o Mestre ou Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), um sujeito carismático que viaja pelo mundo divulgando a sua crença, fazendo sessões de hipnose e regressão, alegando curar até mesmo a leucemia. A relação entre o bem nutrido Dodd, o criador do movimento científico-filosófico Causa, e o farrapo humano (esquelético e desconjuntado) Quell é obsessiva e de interdependência..., como se o médico e o monstro. No meio dessa viagem de indução (sem discussões) de ideias nada ortodoxas sobre religião, ciência, medicina, psicoterapia..., tecendo considerações e conduzindo o manipulador e a cobaia, está a possessiva Peggy (Amy Adams) esposa de Dodd.


O Mestre é um drama tenso, desconfortável, com performances marcantes. Sem alívio cômico e recheado de diálogos que convidam a uma reflexão despretensiosa sobre mistérios e decadência da vida humana e do universo, é envolvente, mas não é sedutor. A iniciação do processo de cura de Freddie (um sujeito totalmente sem limites), intencionalmente repetitiva (?), acaba se tornando exaustiva (e dolorosa) até para o público. Embalada por uma música intrusiva, a relação de profunda e doentia camaradagem, vivida por Quell e Dodd, perdidos em seus próprios “eus” e afogados em álcool, nicotina e sexo, é um prato feito irrecusável para os terapeutas junguianos de plantão.  

São muitas as informações a serem processadas durante a longa narrativa e, por isso, passagens mais confusas podem se perder na aparente complexidade da trama pontuada por flashbacks. Como, por exemplo, um curioso nó, embaralhando realidade (acreditar) e sonho (imaginar) de Quell, a ser desatado a cada sequência, e que só deve despertar interesse após a sessão.  Se despertar! Os personagens são ricos, bem construídos e interpretados, o problema da distração é que a história teima em se esticar muito além do amém!


Controverso, O Mestre, de Anderson, chega como se fosse um desvelador documento sobre o escritor de ficção científica L. Ron Hubbard e a Igreja da Cientologia, criada por ele. No filme, aliás, o personagem Lancaster Dodd (que seria o Hubbard) se apresenta como: escritor, médico, físico nuclear e filósofo teórico. Mas é bom que se diga, em nenhum momento fica claro se é um retrato dos primórdios da cientologia e ou um apanhado geral de seitas não-cristãs, significadas na personagem charlatanesca de Dodds. Dizem que houve intervenção do mais famoso ator cientologista para que o diretor não polemizasse o tema e ou aliviasse a Cientologia (fundada em 1952), ocasionando em cortes no filme. Será?

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