sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Crítica: Gravidade


Em sua grande maioria, os filmes de ficção científica são catastróficos, tratem eles de exploração do universo ou de invasão de ETs. Talvez porque quase nada se sabe sobre o quê há “lá fora” e ou o quê poderia vir “lá de fora”. Por mais que pareça grande avanço as viagens à Lua (há quem não acredite!), estação espacial internacional, satélites de comunicação, telescópios etc..., estamos na pré-história. Aprendendo com erros e aperfeiçoando os acertos. Muita gente questiona os bilhões de dólares gastos em pesquisas espaciais, por conta das insolúveis (?) questões socioeconômicas, vistas em Elysium, por exemplo. Mas a verdade é que, com ou sem reclamação, o espaço (fronteira final!) exterior nos fascina dia e noite. Reclamando ou não todos querem saber o que há “lá”!

Gravidade (Gravity, EUA, 2013), sci-fi dirigido por Alfonso Cuarón, flutua em torno dos astronautas Ryan Stone (Sandra Bullock) e Matt Kowalsky (George Clooney). Ela, engenheira em sua primeira missão espacial. Ele, comandante veterano em sua última viagem. Durante uma rotineira caminhada espacial, para reparar o Telescópio Hubble, um acidente deixa os dois à deriva no espaço sideral. No silencioso e apavorante vazio, sem contato com o Controle da Missão, praticamente o impossível: encontrar meios para voltar a Terra.


Escrito por Alfonso Cuarón e (seu filho) Jonas Cuarón, o thriller alia técnica (direção) e o que há de melhor em tecnologia (CGI e 3D-IMAX) para contar uma perturbadora história de sobrevivência. O roteiro, na verdade, mesmo com algumas divagações melodramáticas, filosóficas e religiosas, é bem simples, mas não chega a ser banal. Com diálogos minimalistas a narrativa ganha força na minuciosa atuação (dramática) de Bullock e (zombeteira) de Clooney e na magnífica concepção plástica. Momento raro para se apreciar (em IMAX, vale cada centavo!) o mais que perfeito casamento de cenografia (lúdica) e fotografia (realista). O lúdico fica por conta de três emocionantes elementos “fantasia” no interior das bases (americana, russa e chinesa)..., lembranças que ficam.

Em um de seus poemas a mestra Helena Kolody diz que “nas nuvens cada um vê o que quer”. Penso que se dá o mesmo com qualquer obra de arte. Conforme a expectativa e ou grau de informação, estamos sempre indo além e ou ficando aquém, diante de uma obra que, muitas vezes, é apenas o que é, nada mais do que se vê ou que se lê. Mas quem resiste às alegorias que pululam na tela e nos tocam em cada poro? 

Gravidade, com seus signos e metáforas, ainda que pautado por imprecisões e liberdades poéticas (assumidas pelo próprio diretor e roteirista), pode ser visto como um belíssimo filme de ficção..., ou uma inquietante crônica metafísica sobre o princípio e o fim (das coisas), no útero do universo. A trilha (desnecessária!), não a música incidental, pode incomodar. Não é recomendado para quem tem medo de altura e, principalmente, de espaço aberto.

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