sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Crítica: Caçadores de Obras-Primas


A quem não sabe do que se trata, o cartaz de Caçadores de Obras-Primas (2014) promete algo à Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida (1981), com muita aventura, ação e bom humor. Mas..., a gente espera e vira e espera e remexe e espera... Depois de um tempo de arrastada movimentação fica imaginando o que seria do mundo se os EUA não existissem. Ou melhor, se ainda haveria mundo se os norte-americanos não existissem.

Caçadores de Obras-Primas (The Monuments Men, EUA), com direção de George Clooney, é um dos filmes mais americanófilos dos últimos anos. Inspirado no fascinante livro homônimo de Robert M. Edsel, o drama de guerra, em “ritmo de aventura patriótica” estadunidense, acompanha, na Europa, o trabalho de um grupo de 7 especialistas em arte (curadores, artistas, arquitetos, restauradores): Frank Stokes (George Clooney), James Granger (Matt Damon), Richard Campbell (Bill Murray), Walter Garfield (John Goodman), Preston Savitz (Bob Balaban); Donald Jeffries (Hugh Bonneville); Jean Claude Clermon (Jean Dujardin); e a curadora-assistente do Museu Jeu de Paume, Claire Simone (Cate Blanchett), correndo contra o tempo para resgatar milhares de obras roubadas de museus, igrejas e coleções particulares, pelo exército de Adolf Hitler.


A operação durou de 1943 a 1951 e frustrou os planos do Führer de expor esse material no monumental Führermuseum, que planejava construir no futuro distrito cultural às margens do Danúbio, em Linz, na Áustria. Edsel destaca o papel de oitos homens, um a mais que Clooney, mas sabe se que esse grupo chegou a 350, reunindo voluntários de 13 países, empenhados em recuperar obras de artistas como Leonardo Da Vinci, Caravaggio, Rembrandt, Rafael, Vermeer, antes que, por determinação de Hitler, caso o 3º Reich caísse, a “Operação Nero” destruísse o acervo de valor inestimável. Acredita-se que o número de objetos furtados ultrapasse a 5 milhões.

Pautado na caça a duas obras: Madonna de Bruges, de Michelangelo e A Adoração do Cordeiro Místico, de Jan van Eyck, encontrados na mina de Altaussee, na Áustria, escondidas entre 6.577 pinturas e 137 esculturas, o roteiro de Clooney e Grant Heslov, que teria sido de mais valia a um documentário, força a amizade. Quanto mais busca a “neutralidade” mais se enrosca na tremulante bandeira norte-americana em solo europeu, onde qualquer mané (speak english) prefere falar a língua ianque à língua pátria. O assunto de obras de arte roubadas e escondidas em cavernas, feito um tesouro de Ali Babá, é muito interessante, mas Clooney, talvez embevecido demais com o rico material em mãos, acabou perdendo o rumo. O roteiro é redundante e a direção convencional (mais popular?).


Em Caçadores de Obras-Primas não se vê a promissora ousadia do diretor de Boa Noite e Boa Sorte (2005) e ou de Tudo Pelo Poder (2011), por exemplo. A narrativa até esboça um olhar mais distanciado no drama familiar e ou profissional da equipe de abnegados caçadores que colocaram em risco a própria vida, em meio ao fogo cruzado, por uma obra de arte que não lhes pertencia. Porém não o sustenta..., derrotado pelo texto e imagem clichês. Excetuando uma sequência mais emotiva (Natal) ou outra mais ou menos (in)tensa (fazendeiros alemães), a trama carece de criatividade, de mistério..., de veracidade. Nem mesmo o discurso sobre a importância da arte na vida das pessoas e o sacrifício dos especialistas para salvá-las de mãos ímpias parece consistente. 

Não há personagem que desperte alguma empatia. Prisioneiro da redundância e do convencionalismo, o elenco de veteranos não diz a que veio e, assim como os seus personagens (cujos nomes foram trocados), aparece em cena sem nenhuma convicção. Teria a ver com as liberdades poéticas da versão cinematográfica? Há uma brevíssima referência ao The Train (1964), de John Frankenheimer, baseado no livro Le frente de l'arte, de Rose Valland, que no filme de Clooney seria a personagem Claire, de Blanchett. Passatempo para curiosos pouco exigentes e admiradores de artes plásticas.

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