quarta-feira, 30 de julho de 2014

Crítica: Guardiões da Galáxia


Fui ver Guardiões da Galáxia sem saber exatamente o que esperar, já que não tinha referência alguma sobre os personagens, e, para a minha surpresa, fiquei embasbacado.

Guardiões da Galáxia,(Guardians of the Galaxy, EUA, 2014) dirigido por James Gunn, coautor do roteiro com Nicole Perlman, é daqueles filmes que te pegam logo no prólogo. Baseado em HQ de pouca fama da Marvel, tem uma trama simples (quase infantil), despretensiosa e (por isso) muito divertida. A impressão é a de que a adaptação irreverente, que passa a quilômetros do sci-fi cabeça e da seriedade de Capitão América 2 (2014), quer apenas que o espectador se divirta curtindo uma história com raro equilíbrio de humor, drama, ação, fantasia, aventura, num cenário de cair o queixo.


A grande viagem espacial começa em 1988, quando o garoto Peter Quill (Wyatt Oleff), com seu inseparável walkman na cintura, é sequestrado por ETs e reaparece uns vinte anos depois, vagando pelo espaço, na pista de uma misteriosa esfera prateada que ele logo descobre ser cobiçada por alienígenas como o vilão psicopata Ronan (Lee Pace), o tirano Thanos (Josh Brolin, não creditado), o comerciante O Colecionador (Benicio Del Toro), o seu sequestrador e “pai” adotivo Yondu (Michael Rooker). Está, então, aberta a temporada de caça ao simpático e saudosista ladrão galáctico Quill (Chris Pratt), autodenominado Senhor das Estrelas.

Na sua cola, por razões diferentes, além de bandidos alucinados, estão a verdejante rebelde Gamorra (Zoe Saldana) e os adoráveis caçadores de recompensa Rocket (dublado por Bradley Cooper), um irônico guaxinim geneticamente alterado, e a árvore humanoide (eu sou) Groot (dublada por Vin Diesel). Hora mais, hora menos, os quatro vão acabar se encontrando e, na companhia do grandalhão (sem meias palavras) Drax, O Destruidor (Dave Bautista), ver quem acende a bucha, quem se queima e quem apaga o fogo de um universo pequeno demais pra tanto usurpador.


São tantos os adjetivos de Guardiões da Galáxia que é complicado escrever sobre ele, sem soar redundante. Pra começar, não me lembro da última vez em que vi (se é que já vi!) tamanha ousadia (burlesca) com personagens do universo marveliano e engenhosidade em sequências de dar inveja a MacGyver (com suas fugas mirabolantes). O enredo alegre, cheio de surpresas (e maravilhas da tecnologia CGI), não subestima a inteligência de ninguém, com a sua jovialidade. Não tem lição de moral, subtexto e sequer resvala numa jornada do herói. Também porque, a turma de (mercenários amadores) de Peter Quill, de herói, tem nada. É aí que está o charme da história que se passa num lugar qualquer do Universo, onde alienígenas comuns erram muito e acertam de vez em quando..., ou sempre que convém aos seus negócios futuros.

A caracterização de Quill, aos moldes de Han Solo e Indiana Jones, e o flerte mais descarado com Star Wars e Caçadores da Arca Perdida, não incomodam. Estão mais para reconhecimento (ou citação) do que para paródia. A empatia é automática, para os fãs dos dois aventureiros. Aliás, o serviço de caracterização (maquiagem) de todos os personagens é excelente O elenco encabeçado por Pratt é muito bom e parece se divertir com seus personagens desajustados e seus diálogos literalmente de outro mundo.


As cenas de ação (tipo game) são fascinantes. A teia de aeronaves douradas na batalha de Xandar é um espetáculo arrepiante. Mas, três ou quatro cenas lúdicas protagonizadas pela adorável árvore (eu sou) Groot estão muito além do fantástico. Elas são mágicas, surgem de repente, do nada, te viram de ponta cabeça e te dão um nó na garganta e desaparecem. A narrativa já está lá longe, maluquices pululando na tela, mas a beleza, a delicadeza daquelas imagens ainda persiste na sua retina. Invejável construção e edição de cenas.

Em mim ficou pelo menos três grandes momentos de (eu sou) Groot. Um deles, inclusive (o mais bonito?), me fez lembrar uma cena do clássico Frankenstein (1931), de James Whale..., que não vou citar para não induzir à mesma leitura. Mas qualquer cinéfilo vai reconhecer no ato. Não sei se foi pensada (homenagem) e ou se é o inconsciente do diretor e roteirista pregando peça. Veja bem, as cenas não são semelhantes, apenas a beleza e um gesto as une. E que gesto.


Enfim, considerando a eficácia da direção e o roteiro descompromissado; o nonsense, a trama bacana; os efeitos especiais inacreditáveis, dando forma a um Universo muito além da imaginação; cenografia e fotografia deslumbrantes; a saudável desconexão da trilha composta por rock-baladas de FM anos 70/80; a hilária homenagem a Kevin Bacon e ao Footloose (1984); a embalagem 3D (de profundidade) da melhor qualidade..., ara, se melhorar, estraga!

Ah, antes que me esqueça, pra não dizer que não falei da babel, o fato da língua universal das civilizações galácticas ser o inglês americano, segundo a filologia hollywoodiana, talvez não tenha a menor importância..., já que, além de facilitar a vida dos estadunidenses que odeiam legendas, essa questão já foi (?) plenamente explicada na excelente animação Planeta 51 (2010). E, também, os espectadores terráqueos não-americanos já se acostumaram. Todavia, que seria muito mais divertido se cada povo falasse uma língua diferente, não tenho a menor dúvida!

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