quinta-feira, 7 de maio de 2015

Crítica: O Exótico Hotel Marigold 2


Em 2012 uma das grandes surpresas no cinema foi a adorável comédia romântica inglesa O Exótico Hotel Marigold. No seu saboroso diálogo há uma fala tão marcante que muitos espectadores a usam como autoajuda (!?): “Na Índia, temos um ditado: tudo vai dar certo no final. Então, se não estiver tudo certo, é porque ainda não é o final.

Três anos depois, os mesmos John Madden (direção), Ol Parker (roteiro) e elenco nos recepcionam outra vez no Exótico Hotel Marigold para uma estadia de duas horas e um convívio divertido com hóspedes bem ou mal humorados e suas pertinentes reflexões agridoces sobre a velhice e o tempo que a idade (veloz ou vagarosa) se faz sentir no físico ou na mente de cada um.


A nossa viagem começa nos EUA, onde os sócios Sonny Kapoor (Dev Patel) e Muriel Donnelly (Maggie Smith), à procura de investidores, visitam o empresário Ty Burley (David Strathairn), que só dará uma resposta após a visita de um cliente espião ao Hotel Marigold. No retorno à Jaipur, Soony só faz estressar: é o casamento com Sunaina (Tena Desae); a expansão dos negócios; a visita do espião americano, que ele acredita ser o novo hóspede Guy Chambers (Richard Gere), um romancista que chega ao Marigold no mesmo dia em que a turista Lavinia Beech (Tamsin Greig). O tumulto com a chegada do tal “espião comercial” é muito engraçada e uma “pegadinha” muito bem resolvida.

Enquanto isso, nossos velhos conhecidos aposentados britânicos, continuam driblando o tempo, se ocupando e se adaptando da melhor forma possível naquele aprazível lugar: Evelyn (Judi Dench) negocia com tecidos e o tímido Douglas (Bill Nighy) virou “guia” turístico; Madge (Celia Imrie) ainda testa a paciência dos seus amantes e o afortunado casal Norman (Ronald Pickup) e Carol (Diana Hardcastle) vive mais livre que nunca. Mas, sabe como é a vida, dependendo dos percalços do hoje, o amanhã pode ou não ser um outro dia.


O Exótico Hotel Marigold 2 (The Second Best Exotic Marigold Hotel, 2015), me pareceu tão bom quanto o filme anterior. Não apenas por manter o mesmo clima descontraído (que a nova geração jamais espera das mais velhas) e os diálogos irônicos (Algumas vezes a gente perde. Outras a gente aprende.) ou cínicos, que o notabilizaram..., mas por não estacionar na mesmice. A história não ficou esparramada em uma espreguiçadeira na cobertura ou no jardim do Exótico Marigold, ela seguiu em frente (de onde parou), com seu humor inglês ainda mais desconcertante (a aula sobre o preparo de uma “simples” xícara de chá é de rolar de rir, para quem toma chá e ou não precisa de sachê para mergulhar no humor inglês, evidentemente). Ainda que se perceba um desejo de clichê emotivo aqui ou acolá, o roteiro redondo não deixa pontas soltas. Assim, ninguém tropeça, já que cada personagem tem o seu enredo com começo, meio e fim satisfatoriamente resolvido.


Num tempo em que todo tipo de violência (cada vez mais) gratuita invade repetidamente as salas de cinema, num arremedo idiota dos telejornais que invadem os lares, pautados pela estética do quanto pior melhor, anestesiando o combo cinespectador/telespectador..., é um momento de puro deleite (com mel) apreciar esta charmosa obra onde os idosos são protagonistas de uma vida cheia de curiosas vivências e experiências singulares pra lá de possíveis no mundo real. E ainda que não fossem possíveis, valem como sugestão ou provocação! É claro que a veracidade dos ótimos diálogos deve muito à performance do excelente elenco e à narrativa despretensiosa, colorida e cativante que não privilegia ator algum. Todos têm o seu (bom) tempo em cena para agradar e seduzir o público com a sua mirabolante história paralela. Não é fácil escolher uma, ainda que boas sequências te façam balançar por esta ou por aquela.


Enfim, se há três anos gostou ou desejou ser hóspede do Exótico Hotel Marigold por um pouco mais de tempo no escurinho do cinema, aproveite bem a nova temporada ainda mais colorida, musical e graciosa. Você ainda pode se surpreender com a energia de velhos e novos conhecidos e com “inoportunos” comentários sobre a menopausa e o óbito.

Em 2015, com o bem-vindo retorno ao Exótico Hotel Marigold, a fala que fica, só não sei se como autoajuda, já que flui carregada da mais fina ironia (ou grosseria?) inglesa numa das melhores sequências, é: "Só porque eu estou olhando para você, enquanto fala, não significa que eu estou prestando atenção ."

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