sábado, 8 de outubro de 2016

Crítica: Kubo e as Cordas Mágicas


Kubo e as Cordas Mágicas
por Joba Tridente

Kubo e as Cordas Mágicas é a mais recente produção da Laika, que já nos acostumou (mal!) com os excelentes curta Moongirl (2005) e os longas Coraline (2009) e ParaNorman (2012). E parece que a produtora americana não desistiu de fazer a nossa cabeça com animações de rara qualidade.

Nesta mais que bem-vinda e amorosa aventura, o enredo acompanha a saga de Kubo, um menino gentil e carismático que, diariamente, encanta os moradores de uma pequena vila de pescadores, no Japão antigo, com suas incríveis histórias animadas com figuras de origami. À noite ele cuida da sua mãe, que às vezes entra em transe, sob a influência da lua. Certo dia, após orar por um parente morto, Kubo passa a ser perseguido por duas maldosas entidades gêmeas e, para se livrar delas, precisa encontrar a Armadura Impenetrável, a Espada Inquebrantável e o Capacete Invulnerável, que pertenceram a seu pai Hanzo, que foi um grande guerreiro samurai. A sua jornada heroica e de autoconhecimento será longa e perigosa e, além do seu precioso shamisen (um instrumento mágico de cordas), ele contará com a ajuda imprescindível de uma ousada Macaca, de um irrequieto Besouro e de um silencioso e valente Samurai de Origami.


Original, criativo, divertido e um pouco melancólico, o enredo desenvolvido por Marc Haimes e Chris Butler, com ótima direção de Travis Knight, fala diretamente ao coração de todos aqueles jovens e ou adultos espectadores que também adoram ouvir uma boa e tradicional história oral. E nem poderia ser diferente, já que o seu protagonista é um hábil e gracioso Contador de Histórias que durante a narrativa vão se encadeando a outras histórias que não se quer que acabem.

Se não se atentar aos créditos, o público inteirado das coisas do oriente vai achar que está diante de uma belíssima lenda japonesa e de uma irretocável obra cinematográfica vinda da terra do sol nascente..., tanto pela qualidade técnica (mista), onde o apuradíssimo stop-emotion, digo, o stop-motion dá o tom a uma narrativa comovente (sobre perda e superação), quanto pelo excepcional conteúdo. Porém, é bom ressaltar que Kubo e as Cordas Mágicas (Kubo and the Two Strings, 2016) é um filme norte-americano e a sua inegável aparência de épico nipônico deve-se ao respeito de Knight àquele país e à consultoria de artistas japoneses de diversas áreas.


É impossível não se encantar com ele já nos primeiros minutos do seu prólogo, frente à emocionante releitura de A Grande Onda de Kanagawa (1830-1833), a formidável xilogravura de Katsushita Hokusai (1760-1849), onde a mãe de Kubo conduz uma balsa sobre uma gigantesca onda. Encanto que só faz crescer cena a cena e a cada reverência à rica cultura japonesa e a grandes mestres universais como o gravurista Kiyoshi Saito (1907-1997) e os cineastas Akira Kurosawa (1910-1998), Hayao Miyazaki e David Lean (1908-1991)..., referências importantes no desenvolvimento da obra, segundo Knight.


Enfim, considerando que as fantásticas sequências de origami, com certeza, vão fazer muita gente sair da sessão com vontade de dobrar papéis e também criar lindas peças..., isso, se já não tiver feito com um folheto qualquer que tiver no bolso; que a sua mensagem pacifista e nada piegas de amor à humanidade, em um final desconcertante e consagrador, é capaz de fazer marejar o cinéfilo mais durão..., Kubo e as Cordas Mágicas, faz valer cada dia dos cinco anos de trabalho e o preço do ingresso. Provavelmente é um dos filmes mais belos e requintados que verá neste 2016.

Ah, e não saia da sala junto com os créditos, pois vai perder as cenas de bastidores (making of) da construção e manipulação do Mostro Esqueleto que tem quase cinco metros de altura. E quando sair do cinema, não esqueça de colocar o queixo (caído)  no lugar!

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