quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Crítica: A Torre Negra

A Torre Negra
por Joba Tridente

Uma coisa é certa, se as obras do escritor norte-americano Stephen King são sucesso em todo o mundo, as adaptações cinematográficas nem sempre agradam aos fãs e ou mesmo ao autor. Eu nunca li nenhum de seus livros, mas já vi muitas versões no cinema. Enquanto espectador, evidentemente sem condições técnicas de comparar um e outro, gostei da maioria.

Quando me interesso por algum filme (para crítica/cabine ou não) busco o saber o mínimo possível, apenas a informação básica, para não me deixar influenciar por diretor, roteirista, elenco..., nem vejo trailer (cada vez mais com spoiler). Sobre A Torre Negra, que finalmente chega aos cinemas, li a interessante sinopse há alguns anos, quando se cogitava uma adaptação franquiada para cinema e tv. Foi assim, curioso e sem ter lido uma linha sequer da série de (por enquanto) 8 livros (1982-2012) e ou da adaptação para os quadrinhos da Marvel (2006-2017), que fui conhecer a versão do diretor e roteirista dinamarquês Nikolaj Arcel.


A Torre Negra (The Dark Tower, 2017), co-roteirizado por Arcel, Anders Thomas Jensen, Akiva Goldsman e Jeff Pinkner, é um filme fantasia de ação e aventura infantojuvenil programado para iniciar no cinema uma história de ficção científica/western que vai terminar na tv, em forma de série complementar. Bem ao contrário da minissérie IT (1990), sucesso na tv e que ganhou um remake cinematográfico com estreia prevista para o mês de setembro.

A trama de A Torre Negra gira ao redor do adolescente Jake (Tom Taylor), que desenha (muito bem!) os seus frequentes pesadelos sombrios, onde aparecem um Homem de Preto/Walter (Matthew McConaughey), uma Torre Negra e um Pistoleiro/Roland (Idris Elba). Jake busca um significado para as imagens de terror que o perseguem noite a noite, mas todos dizem que é fruto da sua imaginação. O garoto, acreditando numa iminente catástrofe desenhada, decide pesquisar por conta própria e acaba descobrindo um Portal que o leva até a Terra Média (num plano paralelo e de língua inglesa). Neste lugar, uma das paisagens lúgubres dos seus pesadelos e que (pelas reminiscências) pode ser a Terra de pós-apocalipse, ele encontra o Pistoleiro Roland, que trava uma batalha (secular?) com o Mago Walter, ansioso para destruir a Torre Negra (que mantém o equilíbrio do Universo) a fim de implantar o seu Império de Trevas. Não está na hora desses vilões serem mais criativos, não?! Um Pistoleiro movido pela vingança e um Mago movido pela ganância. No meio desse imbróglio, uma misteriosa Torre Negra, contornada por um garoto dotado de poderes psíquicos raros: “o brilho”..., que pode interessar a ambos.


Além da previsibilidade (mesmo desconhecendo a fonte) nas ações e reações, o filme é apressado e sem profundidade em seu enredo rasteiro. Não há tempo para empatia e ou antipatia pelos personagens egocentrados e vivendo apenas o seu presente: Roland e Jake (unindo pistola e mente) para derrotar Walter, que, por sua vez, quer matar o (imune) Pistoleiro e usar o garoto para destruir a enigmática Torre Negra. Nessa lenga-lenga de gato e rato, cabe ao público juntar algumas citações que vão quicando pela trama e encontrar lógica numa história trivial que “relaciona” a Espada Excalibur do Rei Arthur com a Pistola Automática de Roland, mas deixa os seus personagens sem passado.

Saber mais sobre Jake, Roland e Walter, sem a obrigação de ler os oito volumes (por enquanto!), faz muita diferença. No entanto, fragmentada e claudicante, a narrativa é desenvolvida como se todo espectador estivesse familiarizado com esse inusitado universo (paralelo ou futuro?) onde há até um vilarejo multiétnico (analogia à Arca de Noé?). Pelo que tenho lido (dos aficionados da série de Stephen King), muita coisa aconteceu antes e depois dos “eventos do filme” com estes mesmos personagens que (nos livros) são muito mais do que aparentam (na telona). Mas, então o final não é o final? É melhor eu seguir em frente também!


Hoje em dia, com os filmes ultrapassando a duas horas, para contar história de no máximo 1h30, é curioso que um enredo “baseado” em uma série de oito longos romances caiba numa narrativa de 95 minutos. Porém, qualquer que seja o comentário que se faça ao “thriller” juvenil, é bom levar em conta que os próprios realizadores deixaram claro que esta não é uma adaptação fiel à série de livros de King, mas uma mera sequela (tipo prévia?), aproveitando alguns personagens numa história não oficial, que deverá ser aprofundada na série de tv.  Se bem que, pelo que se especula, não há consenso se A Torre Negra, o filme, é sequel e ou prequel de alguma franquia vindoura...

Enfim, diante de uma adaptação que pode soar a pipoca fria sem sal e com muita pururuca ou refri quente, quem espera um thriller de arrepiar os pelinhos da nuca, vai ter de se contentar com o cansativo tiroteio (sem sangue) coreografado do Pistoleiro (o tiro mais interessante, inclusive, com o itinerário da bala certeira, está inteiro no trailer) e duas piadas legais no “ato” final. O trio de atores protagonistas é bom, mas o script é de doer. Os efeitos especiais “econômicos” também não ajudam. Os dois ou três monstrengos, de tão primários, são risíveis. Não assustam. Não convencem! Nem eles sabem o que estão fazendo na Terra Média.


A minha impressão foi a de assistir a mais um mirabolante filme se super-heróis, só que obscuro e de baixo orçamento, com personagens sem personalidade e nenhum carisma, onde o Walter seria uma espécie de Dr. Estranho do mal: “Pare de respirar!” e o Pistoleiro um coadjuvante qualquer do bem, com o seu código de honra: “Eu não miro com a minha mão, miro com o meu olho! Eu não atiro com a minha mão, atiro com a minha mente! Eu não mato com a minha arma, mato com o meu coração!”. Um filme (ou seria apenas um teaser?) que promete muito, mas te entrega praticamente nada. Roda, roda, roda e avisa que vai continuar em outro lugar, qualquer hora dessas.

Porém, toda via da leitura, como seu público alvo é o pouco exigente juvenil, que está nem aí para roteiros rebuscados e não vai precisar incomodar o Tico e o Teco, se descolar os olhos do celular, esse conto simplório (bacaninha em algum momento), com começo, meio e fim, pode até agradar. Já aos adultos e leitores assíduos de King, sei não...



*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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