segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Crítica: O Destino de Uma Nação


O Destino de Uma Nação
por Joba Tridente*

Em 2017 a Batalha de Dunquerque, evidenciando a notável Operação Dynamo, recebeu três piscadelas cinematográficas: o metalinguístico Sua Melhor História (Their Finest), de Lone Scherfig; o ensurdecedor mega espetáculo Dunkirk, de Christopher Nolan, e o fascinante thriller político O Destino de Uma Nação (Darkest Hour), dirigido por Joe Wright e com foco maior nos primeiros dias de Winston Churchill como primeiro-ministro do Reino Unido da Grã-Bretanha.

Aliás, o estadista britânico Winston Leonard Spencer-Churchill (1874-1965) frequenta as telinhas e as telonas há um bocado de tempo. Já recebeu a voz de Patrick Wymark, no documentário The Finest Hours (1964), e já foi interpretado por Simon Ward em Young Winston, (1972), Richard Burton em The Gathering Storm (1974), Timothy Lancaster West em Churchill and the Generals (1979), Albert Finney em The Gathering Storm (2002), Brendan Gleeson em Into the Storm - Churchill at War (2009), Sir Michael John Gambon em Churchill's Secret (2016), Brian Cox em Churchill (2017)…, e agora  Gary Oldman em O Destino de Uma Nação (2017).


Com base no roteiro ágil e envolvente de Anthony McCarten, o drama de guerra O Destino de Uma Nação traça um tenso painel do crucial maio de 1940, mês em que Winston Churchill, primorosamente incorporado por Gary Oldman, assume como primeiro-ministro britânico em meio a um parlamento dividido e acovardado com as tropas de Hitler batendo à porta, o governo francês levando rasteira e Mussolini se aliando ao nazista. Churchill, pouco diplomático diante de uma situação desesperadora (tropas inglesas sendo dizimadas e mais de 300.000 soldados sitiados em Dunquerque), longe de ser o candidato ideal do rei George VI (Ben Mendelsohn, memorável) e achincalhado pelos adversários e colegas de partido Neville Chamberlain (Ronald Pickup) e Visconde Halifax (Stephen Dillane), faz do seu nacionalismo (regado a Scotch e charutos) o combustível ideal para Grã-Bretanha entrar e sair (ou cair!) com alguma dignidade dessa guerra insana. Concentrando um tempo bem maior aos bastidores ingleses que à frente de batalha, a trama mais sugere que explicita a violência bélica..., embora não dispense os ânimos exaltados das autoridades políticas e militares na busca de uma solução rápida e viável para o assunto devastador.


Como se lê, o motivo (Operação Dynamo) não é inédito e tampouco parece esgotado. Há sempre alguém procurando um novo viés na literatura, cinema e tv. Porém, não me lembro de tê-lo visto numa versão tão instigante e dinâmica, onde as liberdades poéticas soam (se não sutis) divertidas com o apelo do inigualável humor inglês nos diálogos ferinos. Assim como a reconstituição de época, a cinematografia de Bruno Delbonnel, com impressionante movimento de câmera e recorte de cenas (em função da trama e não de exibicionismo) é um espetáculo à parte nesta convincente narrativa que, além do parlamento inglês, bisbilhota o dia a dia no interior do famoso Número 10 londrino, residência oficial do ansioso Churchill e sua tranquila esposa Clementine (Kristen Scott-Thomas). Uma casa onde se resolvem tanto assuntos de Estado quanto domésticos.


O Destino de Uma Nação, com um olhar ímpar de Joe Wright sobre o papel da Grã-Bretanha na Segunda Guerra, é um filme prazeroso que, além de um script inteligente e cativante, brinda o espectador com belas performances de um elenco (espontâneo) que inclui Lily James, na pele de Elizabeth Nel, secretária particular de Churchill. Toda via infernal da guerra, com seu terror intermitente de bombardeios, no entanto, há um incômodo: a inconveniente trilha chorosa, digo, sonora, do Dario Marianelli, que aparece mais quanto menos se faz necessária. Além de redundante é piegas.

Considerando que este breve capítulo da biografia de Winston Churchill é muito bem (re)contado e, independente do excelente aparato técnico, traz interpretações marcantes de Gary Oldman e Ben Mendelsohn, sob direção praticamente irretocável de Joe Wright, o público que aprecia uma trama engenhosa, nem vai sentir a passagem do tempo...



*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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