sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Crítica: A Suprema Felicidade


Crítica: A Suprema Felicidade

Com direção e roteiro de Arnaldo Jabor, nos chega A Suprema Felicidade. Resta saber de quem, já que o filme é de uma melancolia sem fim. Ou quase.

A “trama” gira, praticamente, em torno de Paulo, dos 8 aos 19 anos (Caio Manhente, Michel Joelsas e Jayme Matarazzo) e na conturbada relação com os pais, Marcos (Dan Stulbach), homem possessivo, ciumento e frustrado aviador da FAB, e Sofia (Mariana Lima), mulher submissa e frustrada dona de casa. O garoto só encontra algum alento na convivência com o espirituoso boêmio e músico avô Noel (Marco Nanini) que, ao seu modo, tenta lhe mostrar que a felicidade pode ser possível, nem que seja apenas por alguns minutos. Entre os anos 1945 e 1956 ele vai buscar (meio desencantado) o seu lugar no mundo carioca, aprender e amadurecer com novas e velhas amizades, amores fracassados, questionamentos morais e religiosos. Através dele conhecemos o falastrão pipoqueiro Bené (João Miguel), que só fala e pensa em sacanagem cabeluda, a “inocente” stripper, sósia de Marilyn (Tammy Di Calafiori), que arrebata corações, o amigo homossexual Cabeção (César Cardadeiro), que sai de cena de forma ridícula, a estranha desfrutável Deise (Maria Flor), entre outros tipos folclóricos de época (ou seria da época?).


A Suprema Felicidade é um dramalhão que vai se dividindo em dramas menores até que tudo vire pó ou uma “epígrafe”: As coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão (da poesia Memória, de Carlos Drummond de Andrade - 1902-1987: Amar o perdido/ deixa confundido/ este coração./ Nada pode o olvido/ contra o sem sentido/ apelo do Não./ As coisas tangíveis/ tornam-se insensíveis/ à palma da mão/ Mas as coisas findas/ muito mais que lindas,/ essas ficarão). As tramas (re)viram e (re)voltam a um passado (aparentemente nostálgico) meio que de lugar algum para lugar nenhum, pois nada muda no ciclo vicioso das personagens que ficam zumbizando entre si. O tempo cinematográfico da (in)felicidade (individual ou coletiva) também é insuficiente para causar qualquer empatia.


Com uma boa fotografia de Lauro Escorel e excelente direção de arte de Tulé Peake, ele “traça” um painel machofalocratista e depressivo de um tempo que se queria novo, no pós-guerra, em que se acreditava (só acreditava) que era melhor ser alegre que ser triste, apesar de ninguém parecer saber por onde andava a tal alegria contagiante. Segundo Arnaldo Jabor, o filme seria o seu Amarcord (1973), mas, de “felliniano” mesmo, com todas as ressalvas, só a sequência do levante das prostitutas. Enquanto as “recordações” nostálgicas, mágicas do mestre Federico Fellini (1920-1993) enchem os olhos e saciam alma, irradiando felicidade (em meio a questões políticas, sexuais e religiosas), as “recordações” melancólicas de Arnaldo Jabor (que toca nas mesmas questões) parecem cinzas a espera de um vendaval. Em Jabor falta a ironia que transbordava em Fellini. Sobra, então, ao espectador, como válvula de escape, desfrutar (?) dos números musicais, num fragmentado drama que prefere se esvair na dor, a esbaldar-se no prazer e na suprema felicidade.

7 comentários:

  1. Bom, ainda não vi esse filme mas preciso conferir.
    Anda mais que gosto de Dan Stulbach.

    Parabens pelo blog, te linkei ao meu e sigo!

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  2. Olá, Cristiano.
    Estava muito curioso, por conta do trailer.
    Mas, como uma coisa é uma coisa e outra coisa é, realmente, outra coisa. O filme me decepcionou muito. E quando penso nele, me decepciono mais.

    Não vi o Claque ou Claquete entre seus links.
    Valeu pela visita. Gosto muito dos seus textos e do seu blog, que já sigo há algum tempo.

    Abração.
    T+
    Joba

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  3. Pior filme que já vi no cinema!

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  4. O filme deixa a desejar nas peripécias de Paulo, mas nunca será antigo, gritar o quanto somos PODADOS ao ser ALEGRES e FELIZES.

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  5. Olá(s) Anônimo(s).
    A Suprema Felicidade Jaborniana é uma colcha de "alegrias" interrompidas, numa cama de gato coberta de lamentações, onde é "proibido" ser feliz.
    Falta-lhe inocência, falta-lhe alma, que, por melhor que seja, a direção de arte não consegue suprir.
    Na verdade, o que falta, mesmo, para se chegar À Suprema Felicidade, é rumo!

    Abração.
    T+
    Joba

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  6. Vi hoje, no Cinemark, tela gigante. O filme chama a atenção pela fotografia, pela direção de arte. Mas peca no roteiro e na direção de atores. O Dan Stulbach, a Mariana Lima e tantos outros estão muito mal, estereotipados a não poder mais. Nanini se defende bem, o Jayme Matarazzo tem futuro. A Tammy Di Calafiori é muito gostosa, porém isso é pouco para salvar o filme do naufrágio.
    "As coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão", escreveu Carlos Drummond de Andrade. Mas este infelizmente não é o caso de "A Suprema Felicidade".

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  7. Olá, Antunes.
    Amarcord é eterno.
    Vamos ver o que o tempo fará com A Suprema Felicidade.

    Abração.

    T+
    Joba

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