sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Crítica: Desconhecido


por Joba Tridente

Com um elenco internacional, alavancado pelo ator irlandês Liam Neeson, o curioso thriller Desconhecido (Unknown, 2011) chega aos cinemas com promessas além da sua capacidade cinematográfica, para um (americano) drama (europeu) de suspense internacional.

A mirabolante trama diabólica (não confundir com Trama Diabólica (Sleuth), de Joseph L. Mankiewicz) traz resquícios de Intriga Internacional (North by Northwest) e bem que poderia ser uma bela homenagem ao mestre do suspense Alfred Hitchcock (1899 - 1980), não fosse o excesso de violência explosiva e algumas derrapadas na pista de uma boa história. Poderia, ainda, ser um filme cabeça (Ôps!), não fosse a forçada bate-cabeça do Dr. Martin Harris (Liam Neeson) que chega a Berlim, com a esposa Elizabeth Harris (January Jones), para participar de um Congresso de Biotecnologia, sofre um acidente e quatro dias depois acorda, em um hospital. Ao tentar retomar os seus compromissos se dá conta de que é um estranho em uma terra estranha, onde ninguém (nem mesmo a esposa) o reconhece e um sujeito (Aidan Quinn) ocupa o seu lugar no mundo lógico. Acreditando que tudo não passa de um grande equívoco, sai desesperado em busca de algo ou alguém que o ajude a provar que ele é quem diz ser.

Apesar da falta de criatividade nas (repetitivas) cenas clichês de (sonífera) ação, Desconhecido, dirigido pelo espanhol Jaume Collet-Serra, tem alguns bons momentos, como, por exemplo, o confronto dos Martin Harris e a visita ao Museu de Fotografia, cuja exposição foi montada especialmente para o filme. Dado os devidos descontos ao exagerado roteiro de Oliver Butcher e Stephen Cornwell, que “atiram” em todas as direções, vale destacar, além de Neeson, as performances do ator alemão Bruno Ganz, na pele do sarcástico Ernst Jürgen, um ex-agente da STASI (Polícia Secreta da Alemanha Oriental), e do norte-americano Frank Langella, como Rodney Cole, um amigo de Martin (Liam).


Baseado no romance Out of My Head, do premiado escritor francês Didier van Cauwelaert, a produção lembra alguns outros filmes sobre desmemoriados (até no acidente) e crise de identidade. Ao ver a saga de terror de Martin, perdido em Berlim e perseguido pela sua própria sombra, pode se achar que ele está procurando respostas nos lugares errados, mas o fim (pouco convincente e melodramático) tenta justificar o meio. A história original se passa em Paris, mas a produção internacional (EUA, Reino Unido, Alemanha, França, Japão) preferiu transferir a trama para Berlim, que também busca uma identidade após a queda do muro e da reunificação alemã. Porém, independente do lugar, Desconhecido poderia ser um suspense muito mais saboroso, se seus realizadores não subestimassem tanto a inteligência do espectador.

Por falar em identidade, no disco I Acto (1973), em um trecho da sua música Eu Não Quero, Zé Rodrix cantava: Eu não quero ser um número/ e uma impressão digital/ Você não quer ser um numero/ e uma impressão digital/ Ninguem aqui quer ser um numero/ e uma impressão digital/ então por quê que todo mundo é apenas um numero/ e uma impressão digital? (...) Mamãe sempre dizia/ meu filho o mundo é isso/ dividido entre o mau e o bem/ e eu aprendi que na face da Terra/ ninguem é igual a ninguem! No fim do filme você vai entender porque a citei.

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