quarta-feira, 13 de abril de 2011

CACINHO: Animando a Massa - I



De Barra do Piraí, no Rio de Janeiro, para Juiz de Fora, em Minas Gerais, e de lá, para o Brasil e o mundo, Cacinho, premiado diretor independente de filmes de animação, vem se destacando nos festivais que tem participado nos últimos anos. Claque ou Claquete abre espaço para publicar uma entremailvista com ele.

Cacinho é um diretor de cinema que trabalha com a cara e a coragem. Se tem patrocínio, faz o filme que deseja, se não tem, faz do mesmo jeito. Talvez um pouco mais simples, mas sem deixar a massa desmanchar e se espalhar pela bancada abaixo. Simples no nome e na arte grande, Cacinho nasceu em Barra do Piraí, cidade do sul fluminense, próxima a Volta Redonda, no Rio de Janeiro. Em 2005 se mudou para Juiz de Fora, em Minas Gerais, pra fazer a faculdade de tecnologia em cinema e televisão.
No site Animado Desenho, ele se apresenta como um desenhista autodidata, que um dia acabou estudando cinema e agora faz desenhos animados. Uma vez falaram que eu parecia um desenho animado! Eu fiquei lisonjeado. Claro! Se bem que, no dia em que me foi dito, era um 31 de outubro, a gente estava numa festa do dia das bruxas, eu estava fantasiado de Frankenstein!!! Mas tudo bem! Será que assim vale? Bom mas mesmo que na verdade (ou não) eu não me pareça um desenho, eu sempre desenhei, nem sei se a primeira coisa que pedi foi mamadeira ou um lápis? Tenho que me lembrar de perguntar isso pra minha mãe! Em 48 anos de existência já fiz muitos desenhos, mas já perdi muitos também. E analisando bem, é como a vida! Uns vão outros vêm! É um ciclo que não para! Meus desenhos são assim, como a minha vida! Só olhando pra eles vejo o quanto evoluí. Desde o primeiro rabisco torto e estático, até a próxima animação que ainda farei, eles contam minha história.

Agora, em ritmo stop motion e live-action, espero desamassar Cacinho e finalmente saber de que ingredientes são feitos ele e seus bonecos animados que vêm fazendo história festivais de cinema Brasil afora.

Claque ou Claquete: Cacinho, você disse que era um desenhista autodidata que estudou cinema e fazia desenhos animados. Não sei se já perguntou à sua mãe, mas, não tem mesmo ideia de quando começou a desenhar?

Cacinho: Olha amigo Joba, não sei quando comecei. Fui alfabetizado em casa e me lembro que, na primeira série, minha professora pediu um desenho para a turma, acho que era sobre uma festa. Todos desenharam, mas ela pegou meu desenho e saiu mostrando pra todas as outras professoras. Sei que desenhava muito na escola, principalmente nas aulas que não me interessavam (matemática, física etc).
CC: Teve alguma influência ou referência gráfica?

C: Tive sim, várias, em épocas diferentes: Juarez Machado, Ziraldo, Maurício de Souza..., e todos os quadrinhos estrangeiros: Batman, Tarzan, Superman, Zorro..., e por aí vai.


CC: Conforme foi crescendo, melhorando o traço e dominando o desenho, pensava em fazer cinema de animação ou se aventurar apenas pelos traços de HQs, Cartuns, Charges?

C: Eu sempre tive curiosidade sobre animação. Mas, não tinha a menor ideia de como se fazia pra que um boneco ganhasse vida. Então me contentava em fazer meus rabiscos e arriscar algumas HQs em parceria com meu irmão mais velho (Edu Toribe). Criamos muitos super-heróis na adolescência, mas se perderam pelo caminho. Depois fiz um curso de eletricista, na Escola Profissional da RFFSA/SENAI. Na verdade queria ter feito desenho técnico, mas no ano em que eu entrei só abriu vaga pra eletricista e como o curso era uma espécie de emprego, pagava 1/2 salário mínimo pra gente estudar lá, então, eu fiquei. Foi ali que comecei a fazer caricaturas, primeiro dos professores, depois dos amigos.

CC: Chegou a trabalhar profissionalmente como desenhista de humor, publicitário ou ilustrador? Chegou a participar de algum Salão de Humor?

C: Trabalhei no sindicato dos metalúrgicos de Barra do Piraí (RJ), na prefeitura de Barra Mansa (RJ) e em uma escola primária particular, onde fazia as ilustrações das cartilhas, depois mais tarde, passei a dar aula lá de artes. O primeiro Salão de Humor que participei foi em Campina Grande, na Paraíba, em 1989, quando a campanha para presidente, Collor x Lula, estava quente. Fiz uma caricatura do Ulisses Guimarães, que era uma múmia egípcia. Depois tomei gosto pelos salões e participei de um montão.

CC: Antes de cursar cinema já havia tentado fazer alguma animação? Qual foi o resultado?

C: Eu achava que não, que nunca tinha animado algo antes da faculdade de cinema. Mas quando estava pra fazer a primeira animação, para um trabalho acadêmico, falei com o professor de direção que eu não tinha ideia de como fazer um desenho animado. Ele se virou pra mim e disse: Se você sempre desenhou, vai me dizer que nuca fez desenhos em sequencia, na beirada do caderno, e depois passava as folha correndo com o dedão e via eu desenho se animar? Quando eu respondi que sempre fazia isso nas aulas, ele me disse: Isso é animação você já sabe como faz.



CC: Acha que o curso foi fundamental para ser cineasta de animação? Em quê?

C: Claro, me ajudou a entender a linguagem cinematográfica, os planos, o jeito de editar. Tudo isso aplico nas animações que faço. Tanto em 2D quanto em stop motion, que é uma técnica que gosto de fazer, pois tenho que ter um pequeno set de filmagem e assim nunca me esqueço das aulas de fotografia, direção, produção, tá tudo ali, só que em escala menor.

CC: Hoje você já se aventura também pela ficção. É uma transição de gênero ou diversificação de linguagem? E, ainda, o que é mais interessante: animação ou ficção?

C: Na verdade a ficção que estou colocando hoje em festivais foi iniciada na faculdade, para o TCC. Eu entreguei o filme na data marcada, mas ano passado resolvi arrumar uns problemas de som e acabei fazendo uma nova edição, que gostei mais. Datei como 2010, porque só o terminei nesta data. Mas ela já é misturada, pois a lembrança do personagem principal acontece em desenho animado. Pra mim não tem um gênero mais interessante. Tudo é interessante, seja documentário, ficção, experimental, animação, ou até mesmo uma fusão entre eles. Mas a minha praia é a animação mesmo.

CC: Como foi participar do primeiro festival de filmes animados e a primeira premiação?

C: Quando terminamos de fazer o Alberico, o nosso primeiro trabalho acadêmico, foi um certo alvoroço na faculdade. A gente era da quarta turma de cinema e aquela era a primeira animação feita por alunos. Recebemos elogios de todos os professores e resolvemos acreditar no curta. Eu o inscrevi em um Festival, em Três Rios, e ele foi indicado a melhor filme, junto com mais dois. Perdemos o melhor filme, mas ganhamos um troféu de menção especial. Aí comecei a achar que a gente era bom (hehehehe) e resolvi seguir em frente. No mesmo ano entrei em um concurso da Gravadora Trama, com a mesma equipe da faculdade, e ficamos em 2° lugar. Com isso nosso clipe A Volta Do Trem Das Onze, do Tom Zé, virou o clipe oficial da música.



CC: O que aconteceu com a turma de animadores da faculdade? Nunca pensaram em continuar trabalhando em parceria, criar uma produtora ou algo assim? Alguém mais se destacou no meio, depois de formados?

C: Seguiram outros caminhos. Alguns saíram da faculdade e foram cursar outra academia. Os que continuaram com cinema, fazem outros trabalhos, mudaram-se de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro, acho até que tem mais campo. Se eu fosse mais jovem, como eles, talvez teria ido também. Mas estamos conectados.

CC: Você trabalha a partir de um roteiro ou é na base de uma ideia na cabeça, uma massinha nas mãos e uma câmera no tripé?

C: Geralmente escrevo o roteiro, faço a decupagem de direção e de direção de arte, desenho um storyboard bem rascunhado. Mas também já fiz animações sem roteiro, só com a ideia na cabeça e a massinha nas mãos.

CC: Afinal, você faz tudo sozinho ou tem uma esquipe?

C: Geralmente sozinho, mas tenho uns amigos que estão sempre em alguma animação. Chamo quando a produção for encomenda ou então se for rolar grana. Se não, vai de Cacinho, Lu e filhas mesmo.

CC: Elas colaboram porque são da família ou porque gostam mesmo? Tem alguma que pensa em seguir carreira ou que ao menos leva jeito?

C: As filhas ajudam por que gostam, mas não o suficiente para seguir carreira. Uma é formada e tem pós em meio ambiente, a outra é jornalista, gosta de desenho mas prefere moda. Minha mulher é uma entusiasta do meu trabalho, no stop motion, além da produção executiva, ela faz os figurinos dos personagens e ajuda na iluminação.

CC: E o seu irmão, aquele das HQs, não se interessa por cinema?

C: Meus irmãos também desenham. O mais velho (Edu Toribe) é músico amador e o mais novo (Elcio Tui) é poeta. A animação Coisa de Pele é uma junção de nossos trabalhos, música do Edu, poesia do Elcio e animação minha. Brinco que é uma produção EDELCA, Edu, Elcio e Cacinho. Tenho um videoclipe animado com a música Sopra Vento, que também contribuí com dois acordes e uma frase. Mas o interesse deles por cinema, por enquanto, é só o de assistir filmes.



CC: Quem banca seus filmes?

C: Quando o filme é autoral é minha produtora executiva, minha companheira de 30 anos de amor e loucuras, Lu Carvalho. Também uso parte da grana que recebo dando cursos e oficinas para produzir meus curtas. Agora, quando é encomenda (coisa rara) o filme se paga.

CC: Qual é o custo básico de um filme de animação?

C: São muitas variantes, cada técnica exige um esforço diferenciado, e com isso os preços variam muito. Por exemplo, numa animação 2D eu uso papel, lápis, muita borracha, depois tem que scanear todos os desenhos e colorizar cada um. São no mínimo 15 desenhos para dar um segundo de vídeo. No stop motion, temos que construir, em uma sala escura, um pequeno set de filmagem, os cenários, os personagens e cuidar da iluminação, pois a luz do sol se movimenta e se aparecer acaba ficando animada no filme. Se eu estou fazendo um filme autoral nem tenho que calcular nada, uso materiais que já usei em outros filmes ou mando ver na sucata mesmo. Mas, se for uma encomenda tenho que planejar, ver os materiais que vão ser utilizados e gastos e o tempo que vai durar a produção. Geralmente um filme de dois minutos demora uns 3 a 4 meses. Depois, se o cliente não quer a casinha que usei no filme dele eu a pinto, modifico e reaproveito em meus curtinhas, pra baratear os custos. É bem difícil calcular.

CC: Como tem sido o retorno do público nos festivais e na internet?

C: Muito boa a receptividade. Gosto de ir aos festivais para ver a reação do público assistindo ao filme pela primeira vez. E isso me incentiva a continuar.

CC: E o retorno financeiro? Já ficou rico ou está endividado?

C: Quando rola grana de premiação em festival eu invisto em equipamento pra melhorar a qualidade de meus filmes. Ainda não me endividei, mas não tô longe disso.

CC: Por conta das premiações já recebeu convite pra realizar filmes em parceria com grandes produtoras brasileiras ou estrangeiras?

C: Ainda não, é bem difícil isso. E também tenho muito chão e muitos rabiscos pra fazer.

11 comentários:

  1. Todo o sucesso do mundo a Cacinho, artista nato que através de diferentes recursos explora e apresenta sua arte com encantamento. Muito boa a entrevista. Parabéns

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  2. Olá, Alice.
    Cacinho "é o cara!", mesmo.
    O trabalho dele é muito bacana
    e mostra que dedicação ao que se ama
    é tudo para se chegar onde quer.

    Abs.
    T+
    Joba

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  3. Gente boa esse cara
    Tive a chance de conhecê-lo e um pouco de seu trabalho.
    Continue assim.
    Abraços

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  4. Fico pra lá de feliz por você, meu amigo!
    Nada melhor do que fazer o que a gente ama e, se fazemos bem, melhor ainda!
    Que Deus te abençoe e ilumine sempre.
    Sucesso e mais sucesso pra você!
    Abraços,
    Goreti

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  5. Olá, Cassia.
    Cacinho, vem construindo uma boa carreira
    e fazendo muitos bons amigos.

    Abs.

    T+
    Joba

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  6. Olá, Goreti.
    Amar o que se faz é também o melhor caminho
    para se fazer amigos.

    Abração.

    T+
    Joba

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  7. parabéns Cacinho, meu grande amigo...
    Muito sucesso em teus caminhos sempre animados!!
    tenho sorte de ser sua amiga...
    bj no coração!!

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  8. Gostaria de saber com entrar em contato com o artista.

    Alguém pode me informa?

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    Respostas
    1. ..., olá, Marcio, vou entrar em contato com o Cacinho para ele lhe responder por aqui e ou me passar um endereço.
      Abs.

      T+

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  9. Olá Márcio Augusto, tudo bem, pode entrar em contato comigo através de meu email: cacinho@agentequefez.com.br

    obrigado

    Abraços a você e ao amigo Joba Trindade

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