sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Crítica: Os Famosos e os Duendes da Morte




À primeira vista, Os Famosos e os Duendes da Morte (Brasil, 2010) parece um típico filme-clip para a MTV. Ou, ficando aquém, tem cara do monótono experimentalismo europeu e brasileiro dos anos 1970, com seus pretensos simbolismos, imagens surreais no vai da valsa para quem sabe dançar ou fica apenas olhando sem entender absolutamente nada do imbróglio juvenil. Não sei como seria numa segunda vista.

O drama adolescente, dirigido por Esmir Filho, baseado no romance homônimo de Ismael Caneppele, escrito paralelamente ao roteiro, com a colaboração de Esmir, fala meio que veladamente sobre um adolescente, Mr. Tambourine Man (Henrique Larré), que se sente deslocado na pequena cidade de tradição alemã onde mora, no Rio Grande do Sul. Ele vive com a mãe (Áurea Baptista), com quem não consegue dialogar. Fã de Bob Dylan, espera um dia cruzar a ponte que liga aquele lugarejo com o desconhecido, para nunca mais voltar. O solitário jovem, perdido em sua introspecção, tem como válvula de escape, um amigo, Diego (Samuel Reginatto), com quem troca algumas confidências e queima baseado, e o seu blog na internet, onde posta textos que misturam literatura e reclamações juvenis de quem tem nada a fazer e ou perder na vida, já que não acredita nem que tem uma vida. No seu mundo digital e real confundem-se ainda os “fantasmas” de uma bela garota, Jingle Jangle (Tuane Eggers), e seu estranho companheiro, Julian (Ismael Caneppele).


Uma vez que Os Famosos e os Duendes da Morte não oferece ao espectador qualquer cartilha e ou códice dos signos bucólicos, resta ao interessado decifrar gentes e coisificar o que vai surgindo aleatoriamente filme adentro e afora na fantasmagoria local ou na internet. O que até seria interessante (mantém a mente desperta) se ao final o espectador não sucumbisse à narrativa e se deixasse aprisionar no círculo vicioso daquela velha ponte aberta apenas para o salto vazio. Ali (na aldeia) não há alegria, somente a tristeza na tocaia, esperando o momento para dar o bote e acabar com a festa de quem insiste em ser feliz. A melancolia não dá “refresco” nem mesmo na boa trilha sonora de Nelo Johann.

A narrativa é tão fragmentada (e artificial) quanto os praticamente monossilábicos personagens da enevoada região. Uma fragmentação que parece exposta mais pela ausência de motivo condutor (leitmotiv) do que pela busca de estilo vintage. A impressão é a de que o material (argumento), suficiente para um ótimo curta, foi excessivamente esticado para um monótono longa. Se bem que, embriagado por alguns bons momentos fotográficos, paira a dúvida de se estar diante de um bom filme ou de uma embromação-cult para festival.


De difícil absorção, a produção brasileira recebeu vários prêmios, mas não caiu no gosto do público (alvo). É difícil imaginar um adolescente, de bem com a sua vida, indo ao shopping assistir ao drama, embarcar no clima fantástico que o filme propõe e ou se identificar com a introspecção daquele agonizante jovem protagonista. Pelo jeito os adolescentes continuam preferindo as comédias evasivas aos dramas depressivos. Ou será que já passou a onda “emo”? Talvez a compreensão da obra seja facilitada se complementada pela leitura do livro de Caneppele (ou vice-versa). O que ainda não fiz.

Alguns filmes, independentes de suas trilhas, me lembram canções outras. A ponte protagonista de Os Famosos e os Duendes da Morte me lembrou da bela A Ponte (de Lenine e Lula Queiroga): Como é que faz pra lavar a roupa?/ Vai na fonte, vai na fonte/ Como é que faz pra raiar o dia?/ No horizonte, no horizonte/ Este lugar é uma maravilha/ Mas como é que faz pra sair da ilha?/ Pela ponte, pela ponte (...) A ponte não é de concreto, não é de ferro/ Não é de cimento/ A ponte é até onde vai o meu pensamento/ A ponte não é para ir nem pra voltar/ A ponte é somente pra atravessar/ Caminhar sobre as águas desse momento (...) A ponte nem tem que sair do lugar/ Aponte pra onde quiser/ A ponte é o abraço do braço do mar/ Com a mão da maré/ A ponte não é para ir nem pra voltar/ A ponte é somente pra atravessar/ Caminhar sobre as águas desse momento (...) Nagô, nagô, na Golden Gate/ Entreguei-te/ Meu peito jorrando meu leite/ Atrás do retrato-postal fiz um bilhete/ No primeiro avião mandei-te/ Coração dilacerado/ De lá pra cá sem pernoite/ De passaporte rasgado/ Sem ter nada que me ajeite (...) Nagô, nagê, na Golden Gate/ Coqueiros varam varandas no Empire State/ Aceite/ Minha canção hemisférica/ A minha voz na voz da América/ Cantei-te, ah/ Amei-te/ Cantei-te, ah/ Amei-te.

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