terça-feira, 24 de abril de 2012

Crítica: Sete Dias com Marilyn



Norma Jean Baker (1926 - 1962) e James Byron Dean (1931 - 1955), estrelas que desapareceram cedo do universo cinematográfico, mas não perderam o brilho. Marilyn Monroe e James Dean, dois mitos trágicos. Dois belos atores cujas vidas e mortes continuam repletas de especulação e despertando calorosas discussões sobre o ser ou o não ser de cada um.

Sete Dias com Marilyn (My Week with Marilyn, RU, 2011) é um drama com pitadas de bom humor inglês. Baseado nos diários de Colin Clark, que foi o terceiro assistente (faz tudo) de produção de The Prince and the Showgirl (1957), ele busca desvelar o real e o imaginário sobre a (explosiva?) parceria cinematográfica entre Marilyn Monroe e Laurence Olivier, e traça um novo perfil da atriz norte-americana, que era muito maior que a sua beleza. Quem assiste a esta ingênua e deliciosa comédia, e vê a esplendorosa Marilyn ofuscar o, então, maior ator da Inglaterra, não imagina o barril de pólvora nos bastidores. Isso, se tudo o que já foi dito sobre as duas estrelas for realmente confiável.


O filme The Prince and the Showgirl (O Príncipe Encantado, EUA, RU, 1957) é baseado na peça teatral The Sleeping Prince, de Terence Rattigan, encenada em Londres, pela primeira vez, por Laurence Olivier e sua mulher Vivien Leigh, em 1953, e na Broadway, nos EUA, em 1956. Marilyn Monroe se apaixonou por ela, adquiriu os direitos e, querendo provar que era uma atriz séria, atravessou o oceano para dividir as glórias de uma produção cinematográfica com o grande Sir Laurence. Na tela, “engessada” num vestido branco, ela brilha do começo ao fim e Olivier não passa de uma sombra dele mesmo. Rodar este filme teria sido uma experiência traumatizante para todos os participantes, principalmente para Laurence Olivier (coprodutor, ator e diretor) e para Marilyn Monroe (coprodutora e atriz). No set, um renomado astro e uma bela estrela em ascensão mundial, numa peleja de talento sem fim. Farpas e mais farpas voaram em todas as direções (dos dois, tão iguais nas suas diferenças). Laurence desceu do salto e maltratou Marilyn. O Sir não mediu o verbo para achincalhar a dama. É o que dizem!

Porém, no meio dos egos cruzados, havia uma testemunha ocular da história: Colin Clark (1932 - 2002). Aos 23 anos e apaixonado por cinema, o jovem bem nascido, “fugindo” da sua tradicional família, foi parar na produtora de Laurence Olivier e acabou contratado como o terceiro assistente (faz tudo) de direção, nesta que prometia ser a produção da década. Era o seu primeiro trabalho e, decidido a aprender tudo sobre a profissão, começou a fazer anotações diárias sobre o que rolava antes, durante e depois das filmagens. 38 anos depois os seus diários começaram a ser publicados. Em 1995 ele lançou The Prince, The Showgirl and Me: Six Month on the Set with Marilyn and Olivier, que virou documentário (2004), e, em 2000, My Week with Marilyn, onde relata uma conturbada semana que passou na companhia de Marilyn Monroe, quando ela esteve em Londres, filmando a deliciosa comédia.


Já se especulou um bocado sobre o rocambolesco episódio cine-teatral envolvendo Laurence Olivier e Marilyn Monroe. Mas, após a publicação dos diários de Colin Clark, desvelando os bastidores de The Prince and the Showgirl, o assunto voltou à baila, aparentemente pondo fim ao disse-me-disse. Sete Dias com Marilyn, dirigido com muita propriedade por Simon Curtis, é uma grande declaração de amor ao exercício cinematográfico e, na redundância, à Marilyn Monroe. O filme, narrado na primeira pessoa, se atém às anotações de Colin Clark (Eddie Redmayne) que, aos poucos, desvela as fortes características de Marilyn Monroe (Michelle Williams) e de Laurence Olivier (Kenneth Branagh). Olivier é o ator clássico tradicionalíssimo e Monroe é atriz instintiva. Colin não julga, não critica a mudança de humor das estrelas e muito menos a motivação de cada um. Aprendeu logo sobre a insegurança dos artistas, a quem atende, sem reclamar, com o carinho e atenção de uma ama-seca. O que faz lembrar o belíssimo A Noite Americana (La nuit américaine, 1973), de François Truffaut, onde o cineasta Ferrand enfrenta problemas parecidos (com atores e bastidores) para realizar o filme Je vous presente Pamela.

Sete Dias com Marilyn é melancólico, engraçado e, por vezes, irônico, ao ressaltar a importância e a diferença dos métodos de interpretação. Enquanto para Marilyn, representar era acreditar na verdade (da personagem), a Laurence bastava fingir a verdade (da personagem). Essa discordância teria provocado o desequilíbrio emocional e a ruptura profissional de ambos, justificando a presença constante de Colin Clark (dentro e fora do set), atendendo e suprindo as necessidades afetivas de Monroe, na ausência do seu marido Arthur Miller (Dougray Scott). A companhia do assistente foi fundamental para Marilyn resolver as suas emoções conflituosas, ganhar segurança na sua interpretação e conseguir finalizar as gravações. A semana que Marilyn e Clark passaram juntos, trocando confidências, marcou para sempre a vida do jovem (também) perdidamente apaixonado por ela, no seu rito de passagem para o show business.


Sete Dias com Marilyn é um filme tocante, intensamente bonito. Não se pretende a uma biografia de Marilyn Monroe, porque a excelência da narrativa é fruto de anotações curtas (quase fofocas cinematográficas) sobre dois temperamentais artistas. Não fosse fato real, seria uma trama típica de clássicos do cinema hollywoodiano dos anos 1940/1950. Kenneth Branagh e Michelle Williams estão arrebatadores como o detestável Laurence Olivier e a apaixonante Marilyn Monroe, ambos na medida certa da arrogância e da sensualidade. Mesmo sem referências para o espectador, Eddie Redmayne também convence como o jovem empreendedor Colin Clark, apaixonado por cinema e por Marilyn.

A cuidadosa fotografia (envelhecida) de Ben Smithard dá um relevo especial à primorosa cenografia (de época), principalmente no set de filmagem de The Prince and the Showgirl e uma luminosidade espetacular nas sequências externas. É chavão, é clichê, mas a “câmera” de Smithard realmente ama a Marilyn/Michelle, acompanhando ou congelando a sua imagem em “clicks” facilmente reconhecíveis pelo público. Outro destaque, que deve fascinar principalmente quem conhece o filme original, é a fidelidade com que Simon Curtis recriou algumas cenas de O Príncipe Encantado. Enfim, Sete Dias com Marilyn é mais uma bela e envolvente homenagem aos fazedores de cinema. Um deleite para as retinas cansadas de tantas babas melodramáticas. Bem, acho que é melhor deixar um espaço para o público descobrir outros predicados.

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