quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Crítica: João e Maria: Caçadores de Bruxas


Se vivos fossem e se acaso vissem a versão contemporânea de Hänsel und Gretel (João e Maria) contada no cinema, os Irmãos Grimm - Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859), autores de Contos da Criança e do Lar - teriam um enfarto fulminante. Como se sabe, os irmãos são os responsáveis pela compilação e adaptação de histórias populares, principalmente da tradição oral alemã (destinadas ao público adulto), para as crianças, pensando no seu caráter educativo. Desde a sua publicação, João e Maria ganhou inúmeras traduções e remendos bizarros. Quem quiser se aprofundar no estudo da história original (e versões) vai encontrar um prato cheio de elementos psicanalíticos, metáforas e imaginação descerebrada..., como é o caso de João e Maria: Caçadores de Bruxas.

João e Maria: Caçadores de Bruxas (Hansel and Gretel: Witch Hunters, Alemanha, EUA, 2013) é uma mistureba e tanto: tem drama, romance e aventura gore, ação gore, terror gore, humor (involuntário: insulina, disco, choque elétrico, metralhadora) gore..., para fã nenhum do gênero horror-show e cinemão trash botar defeito. Da compilação dos Grimm só restou o casal de crianças abandonado na floresta, a casa de Doces e a Bruxa Doceira devidamente torrada. O resto é uma doideira típica de plataforma de game (FPS e TPS).


A narrativa se dá mais ou menos assim: logo após serem abandonados, encarcerados e darem fim à Bruxa Doceira, os irmãos João (Jeremy Renner) e Maria (Gemma Arterton) são recebidos, em um vilarejo, com manchetes dignas de heróis. Enquanto as notícias (algumas com ilustrações animadas como em Harry Poter) pululam na tela, na passagem do tempo e dos créditos iniciais, as traumatizadas crianças crescem vingativas e à simples menção da palavra “bruxa” expõem um fabuloso arsenal retrô-futurista e ou futurista-retrô, de onde sacam armas espetaculares para acertar, explodir, queimar, desmembrar qualquer coisa que não seja um cidadão comum de bons dentes (não vou estragar a piada!). Não é um pássaro e está voando trepado em uma vassoura? BANG! Estava!

Entre um tiro explodindo uma cabeça aqui, uma pancadaria destroçando um cidadão ali, os ressentidos João e Maria se negam a falar sobre seus pais até mesmo entre si. Porém, não vão conseguir manter essa decisão por muito tempo. Sabe como é, a história é outra, um fofoqueiro pode dar com as línguas nos dentes (ôps!), e, além do mais, o espectador tem todo o direito de saber exatamente o que aconteceu com eles. Olha, dizem que a verdade dói, mas esta nem com muita imaginação. Que o diga a bruxona Muriel (Framke Janssen), comedora de coração e sequestradora de criancinhas.


Com roteiro e direção de Tommy Wirkola (Zumbis na Neve, 2009), João e Maria: Caçadores de Bruxas é mais um filme da onda caça a (qualquer) monstrengo (vampiros, zumbis, lobisomens, ETs, demônios), com artilharia pesada, fazendo parecer mais um conto de ficção científica do que (outrora) um conto infantil. Já no começo, quando vão para Augsburg resolver um caso de desaparecimento de crianças, João e Maria mostram porque são (no estilo de caçadores de recompensa do velho oeste) os melhores caçadores de bruxa da região. São exímios no tiro (a bruxa) e no vale tudo com quem se meter no caminho. Devem ter frequentado a mesma academia que as malvadas, já que as bolorentas não ficam atrás no quesito defesa pessoal (socos e pontapés).

Vale ressaltar que este João e Maria não tem nada de infantil e muito menos é indicado para garotada com menos de 16 anos. Excetuando as sequências iniciais que lembram o conto dos Grimm, o que se vê é invencionismo delirante. Muda-se a gênese dos personagens para justificar a sua violência gratuita no futuro. É uma produção cara, mas se vê poucos destes custos na tecnologia 3D e efeitos especiais. Sorte ou azar dos espectadores que curtem um bom jorro de sangue e de cabeças (é o que mais tem!) e pedaços de corpos “caindo” sobre eles. O figurino é bacana. A maquiagem fica entre o bom (troll Edward) e o risível (bruxas, que parecem ETs coadjuvantes de Star Wars). O elenco faz o que pode, todavia com um roteiro frouxo e diálogos (?) medíocres, não dá para esperar muito.

A estética asiática (coreana), imitada à exaustão pelo cinema ocidental, está presente do começo ao fim, mas lhe falta tradição cultural. João e Maria: Caçadores de Bruxas deve proporcionar diversão (esquecível!) para fãs de filme trash.

Para quem se sentir incomodado ou enganado diante do terror gore de João e Maria: Caçadores de Bruxas, eu sugiro o fascinante e perturbador thriller sul-coreano Hansel and Gretel (2007), dirigido por Pil-Sung Yim.

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