segunda-feira, 10 de junho de 2013

Crítica: Depois da Terra


Recentemente estreou a divertida animação pastelão A Fuga do Planeta Terra e agora, no mesmo vácuo, chega o filme Depois da Terra, estrelado por Jaden e Will Smith. Além do gênero ficção científica, em comum um clima retrô e o diálogo, ou melhor, o destino final de seus protagonistas.  Coincidência ou mudança de hábito?

Depois da Terra (After Earth, EUA, 2013), dirigido por M. Night Shyamalan, que roteirizou, em parceria com Gary Whitta, o argumento de Will Smith, é um filme de aventura e ação, com pinceladas dramáticas, voltado ao público juvenil (12 a 16). Todos os realizadores sabem que a explosiva relação entre pais e filhos pode gerar bons (ou enfadonhos) filmes. No entanto o “discutir a relação” (tema em pauta até nos desenhos animados) não é tão fácil quanto parece. Spielbeg, especialista no assunto (divã mal resolvido), que o diga. E também, cá pra nós, adolescente que apronta aqui não é o mesmo adolescente que sobrevive acolá. Se é que me fiz entender.


Depois da Terra fala da saga de 750 mil privilegiados (?) que, por conta de desastres naturais e degradação causada pelo próprio homem, migraram da Terra para Prime, onde enfrentam a ira da civilização Skrel, que considera o planeta como o seu santuário e os humanos como praga a ser dizimada. Esses terráqueos realmente não têm jeito..., com um universo tão grande, vão em suas “arcas” invadir justo um planeta que já tem dono?! Enfim, para defender o seu território os alienígenas têm as Ursas, feras cegas que, atraídas pelo feromônio secretado pelos humanos medrosos, matam sem dó nem piedade. Para manter a posse os imigrantes têm o astucioso comandante Cypher Raige (Will Smith), que descobriu uma forma de controlar o medo, tornando-se invisível e letal para os animais. Fora de casa o tenso Cypher é uma lenda, dentro é prepotente e não sabe como lidar com o adolescente Kitai Raige (Jaden Smith). Nas laterais, pai herói ausente versus filho admirador carente. No centro, Faia Raige (Sophie Okonedo), esposa e mãe pacificadora de ânimos. Certo dia o jovem acompanha Cypher em uma missão e quando um acidente obriga o comandante a pousar a nave no inóspito planeta Terra (de mil anos depois), colocando a vida de ambos em risco, eles terão de (aprender a) confiar um no outro.


Aproveitando o estilo mangá/anime (ainda em voga) de contar histórias juvenis, Shyamalan usa e abusa de elementos orientais, na tentativa de dar alguma profundidade à sua trama rasa.  As referências ao universo samurai estão no nome do personagem (Kitai), nos rituais de concentração, nas armas. E por falar em armas (como já visto em outras histórias), parece que a gente do futuro vai ser chegada numa lâmina e suas ramificações. Lá pelo ano 3000 e pouco a grande sensação será a compacta e eficiente Lança modelo C-40 (com suas 22 configurações, incluindo lâmina curta, lança, lâmina longa, foice, adaga). Uma maravilha “de bolso” capaz de estraçalhar qualquer inimigo. Quem apostava no laser ou em algo mais quente, dançou!

Depois da Terra tem vários pontos em comum com O Último Mestre do Ar (2010), também roteirizado e dirigido por M. Night. Em ambos há um (insolente) jovem adolescente e sua “penitente” jornada do herói rumo à gloriosa maturidade. Que autoconfiança, superação do medo, controle da mente..., são ideias recorrentes em suas exauridas narrativas, não é novidade. A questão é que o vício de linguagem acaba cansando o espectador e aí, qualquer que seja a “jornada” lhe é indiferente o “herói”.  


Kitai não é um personagem arrebatador, muito menos Cypher. Cadê o diretor? Eles passam o tempo todo de cara amarrada e estão mais para egocêntricos à beira da antipatia do que vítimas do sistema (ora, nem Clark Kent é super-herói 24h por dia). A impressão é a de que as suas diferenças vão se dissolvendo aos poucos, itinerário afora (ou adentro), mais por conta do (a)preço pela sobrevivência do que pelo desatamento dos nós familiares, que devem (?) acontecer após o prólogo piegas. Fruto de um roteiro inconsistente, o medo que motiva transformações em ambos também não é pleno..., fica, se muito, no sobressalto.

Tudo bem que se trata de “superação do medo” e não de “provocação do riso”, é um drama de ação e não uma comédia de ação..., mas em uma produção onde até o medo é linear, uma pitadinha de humor, com certeza, faria boa diferença. Depois da Terra (que não resiste à curiosidade do tipo: o que aconteceu com os humanos deixados para trás?) está focado na emoção do espectador jovem e não na razão do adulto. Portanto, o que disse pode não ter a menor importância, já que é possível a um adolescente (ainda que da geração “i”) se identificar com o drama-clichê de Kitai e mesmo assim não dispensar o combo.

Ah, nunca é demais alertar aos distraídos que erram datas na virada do ano, no futuro o d.C (depois de Cristo) será alterado para d.T (depois da Terra, daí o título). Gostou da analogia hollywoodiana? Eu, hein! Se bem que, para economizar neurônios, era só alterar o “C” de Cristo para o “C” de Cypher. Então, de olho no calendário do próximo milênio! Se é que você ainda vai se lembrar do filme quando sair do cinema.

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