terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Crítica: As Aventuras de Peabody e Sherman


Recentemente, ao postar minhas considerações sobre a animação espanhola Justin e a Espada da Coragem, falei sobre a falta de originalidade no meio cinematográfico. Ao ver as primeiras cenas de As Aventuras de Peabody e Sherman pensei: “mais um produto que nasce para virar franquias, games, série de TV etc.” Não sabia, evidentemente, que a animação da DreamWorks é o resgate da animação Peabody's Improbable History, que integrava a famosa série de desenho animado norte-americanas The Rocky ans Bullwinkle, veiculada na TV na década de 1960. Peabody's Improbable History (alguns episódios podem ser vistos no YouTube) foi homenageado em Os Simpsons, Family Guy, De Volta para o Futuro (1985)

As Aventuras de Peabody e Sherman (Mr. Peabody & Sherman, EUA, 2014), dirigida por Rob Minkoff (Rei Leão), é uma animação de aventura e ação que conta a surreal história do relacionamento entre o beagle Sr. Peabody, um cachorro inteligentíssimo (inventor, cientista, ganhador do prêmio Nobel, chef, medalhista olímpico) e Sherman, um menino órfão adotado por ele. Amor e consideração é o que sentem e demonstram o “pai” cão e o “filho” humano. Porém, o mundo abaixo da cobertura onde vivem, tem as suas próprias normas de tolerância às diferenças.


Peabody é um tratador dedicado, amoroso e excessivamente preocupado com normas e regras de bem viver num mundo ainda preconceituoso. Quanto a Sherman, ele usufrui da melhor pré-educação domiciliar, com direito a viagens no tempo (a bordo da Volta Atrás) e encontros com personagens históricos, para aprimorar seus conhecimentos. O problema é que o excesso de informação (?) acaba lhe causando alguns inconvenientes na escola, colocando-o em confronto direto com Penny, uma garota arrogante e maldosa.

Em um encontro de conciliação, entre a família de Sherman e a de Penny, as duas crianças acabam se metendo numa confusão “efeito borboleta” e o mundo entra em colapso. Adivinhe quem vai ter que se desdobrar para reordenar as coisas? AVISO: na escola (onde as crianças de sete anos agem como adolescentes de catorze) há uma perturbadora cena de bullying. Talvez a mais terrível que já vi no cinema! Aliás, na maior parte da trama, pelas decisões (?) que toma, o casal infantil parece ter bem mais de sete anos.


Baseada no roteiro didático de Craig Wright, a narrativa não deixa claro se a intenção é embarcar no politicamente incorreto e ou na paródia. Tampouco define (?) o público alvo, já que há cenas não apropriadas ao público infantil e outras extremante infantilizadas para o adulto. Digamos que está mais para Enciclopédia Básica de Informação e Curiosidades Históricas a serviço da diversão sem compromisso com os fatos. Pode não agradar a todo público, pela forma de abordar (e contestar) a História oficial e ou colocar alguns cacos de gosto duvidoso, que felizmente a garotada e muitos acompanhantes não vão entender.

Assim como a série original, a animação traz muitos trocadilhos infames e, portanto (a mim!) sem a menor graça, mas deve arrancar sorrisos de algum desavisado. E por falar em humor, a se pautar pela versão e (discutível) dublagem brasileiras, ele perdeu a viagem. A lembrança do que é um convite ao riso não dá para uma gargalhada. Há sequências belíssimas (mágicas), como o voo das crianças no aeroplano de Leonardo da Vinci; momentos “escolares” com a (Guilhotina da) Revolução Francesa e a Guerra (e o Cavalo) de Troia; e tolices como o casamento de Tutankhamon; tudo num clima de gags assim-assim e ação (tipo) pastelão.


As Aventuras de Peabody e Sherman, que não dispensa manjados clichês, tem um enredo que lembra, entre outros filmes e séries de sci-fi, Doctor Who. Se bem que a famosa série britânica (lançada em 1963) pode muito bem ter sido inspirada na famosa série animada norte-americana (lançada em 1959). Já que falar da plasticidade e técnica é redundância, num contraponto às apavorantes sequências de bullying e de linchamento, destaco a feliz ideia de inclusão da maravilhosa "Beautiful Boy", de John Lennon, na trilha. O meu desencanto com a animação, acredito, tem a ver com a "banalização" da violência!

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