Quando começou a boataria sobre a continuação de
300 (2007), de Zack Znyder, que
trataria da ascensão de Xerxes, a
partir de uma graphic novel a ser
escrita também por Frank Miller, estranhei que o nome de Rodrigo Santoro fosse
pouco citado. Após a sessão de 300: A
Ascensão de um Império entendi que o filme não é sobre a personagem Xerxes, mas sobre Artemísia, levemente inspirada na dissidente grega homônima, rainha de
Halicarnasso, que preferiu se juntar ao rei persa e comandar seus próprios
navios, na famosa Batalha de Salamina. Ou seja, se em 300, Santoro já não era exatamente o protagonista, agora, a sua
presença passa quase despercebida (exagero!)..., se muito, dura uns quinze
minutos como coadjuvante, entrando praticamente mudo e saindo praticamente
calado.
300: A
Ascensão de um Império (300:
Rise of an Empire, 2013), dirigido por Noam
Murro, com roteiro de Zack Snyder e, Kurt Johnstad, acontece durante, antes
e depois dos fatos apresentados em 300
(espartanos), numa espécie de “continuação descontinuada”. O mote ainda é a vingança
(e em dose dupla!), mas a rota, agora, é a mobilização do nobre ateniense Themistokles (Sullivan Stapleton) para formar um exército e, em nome da democracia,
defender a Grécia dos invasores persas. A ação é centrada nas famosas Batalha
de Artemísio e Batalha de Salamina (480 a.C), onde o herói enfrentou a tirana Artemisia (Eva Green), comandante da frota marítima de Xerxes (Rodrigo Santoro).
A começar pela arrepiante abertura, com os logos
dos produtores transformados em portões e um mural de bronze em baixo-relevo
ganhando cor e forma da Batalha de Termópilas, onde Leônidas (Gerard Butler)
morreu com seus comandados, 300: A
Ascensão de um Império dá ao espectador aquilo que foi procurar: Sangue! Sangue! Sangue! É
um festival de decepamentos (membros voando pra todo lado) aos modos da violentíssima série Spartacus que, por sua vez, se embebedou no sangue
de 300. Se prequel ou se sequel, o
importante é a quantidade de bloody greco-persa servido aos ávidos espectadores.
Os criadores de 300: A Ascensão de um Império, com suas liberdades prá lá de “poéticas”,
é óbvio, não estão preocupados com a veracidade dos fatos, segundo a História
Oficial, mas com o impacto visual que o espetáculo (e que espetáculo em 3D IMAX!)
vai causar. Esse descompromisso (ou seria descaso?) hollywoodiano com a
História Oficial, inclusive, foi visto recentemente na discutível e “didática” animação
As
Aventuras de Peabody e Sherman.
Portanto, é bobagem, total perda de tempo tentar levar a sério uma narrativa cujo
experimentalismo (gráfico!) parece ser mais importante que o assunto que
ilustra.
Não é preciso ser um historiador para desconfiar
das motivações e do desfecho dado a alguns personagens protagonistas (Themistokles e Artemisia) e coadjuvantes (Xerxes
e Dario). Afinal, livro é livro, História
é História..., e filme é um departamento repleto de clichês ao sabor dos
realizadores. Filmes como os dois 300,
não foram feitos com intenções didáticas, mas com a pretensão de divertir e (claro!)
gerar muita renda (só isso!). Se for preciso mudar a História, em nome da
diversão, não resta a menor dúvida que os estúdios vão contar a sua versão, a
sua estória.
A suntuosidade cenográfica (a gente nem lembra
que é CGI) e as sequências de batalha marítima, de 300: A Ascensão de um Império são de cair o queixo. O enredo que, em
seu cortante círculo vicioso, se desenvolve de forma falsamente despretensiosa, empolga
mais do que incomoda. A “dissidente” grega Artemisia
(Green), que caiu no gosto da crítica, talvez pela beleza do figurino e da atriz,
é a personagem menos convincente. Quando parece que ela vai fazer e acontecer...,
brocha. E por falar em brochar, a “recatada” sequência de sexo (implícito entre
cenas de violência explícita) do casal guerreiro é tão brochante que merece o Framboesa de Ouro pela pior performance sexual.
Tá bom..., a cena do beijo na cabeça decapitada é muito boa. Assexuada, mas
boa!
Enfim, o filme não encanta como o inusitado 300 (2007) e muito menos sobra algo na memória que vá muito além dos impressionantes efeitos especiais. Uma piadinha (meio sem graça) aqui e outra acolá. Assim como Xerxes (Santoro), outros sobreviventes da batalha anterior, como a narradora Rainha Gorco/Oráculo (Lena Headey) e o descartável corcunda traíra Ephialtes (Andrew Tiernan), aparecem para fazer também uma ponta. Pode ser uma boa diversão para quem gosta do gênero (épico), desde que não se aborreça com estética gore (extrema violência) e entre no clima de ação dessa estória paralela à História Oficial.
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