terça-feira, 17 de junho de 2014

Crítica: Trancendence - A Revolução


Sábado, 14.06.2014, após a sessão de Setenta, documentário brasileiro que remonta ao Golpe Militar de 1964, sob o ponto de vista dos revolucionários civis sobreviventes, voltava para casa, quando, passando pelo calçadão central de Curitiba, ouço um crente vociferando: “..., até a época de Noé nunca tinha chovido na Terra, por isso as pessoas que não sabiam o que era chuva não acreditaram no dilúvio mandado por deus e morreram!” Hãnnn?! É cada crentenice que a gente houve pelas ruas e no susto, quando muda de canal de tevê, que não está na Bíblia, viu?!

Será esse tipo de sensacionalismo religioso factoide (sandices de rua e de mídia) que está levando Hollywood a descartar a marola e apostar num lucrativo tsunami doutrinário cristão (Noé; O Filho de Deus; Deus Não Está Morto; O Céu é de Verdade; Maria, Mãe de Cristo; Rei dos Reis; Caim e Abel; Exodus) bem ao gosto dos evangélicos e, principalmente, dos criacionistas eternamente de plantão? Well, parece que o culto, na companhia da Comissão Cristã de Cinema e Televisão americana, já começou: “Se Deus é pelo nosso estrondoso lucro, quem será contra nossa sagrada ganância?”

Ôpa, será que já está valendo para o tiro de meta Transcendence - A Revolução? Bem, valendo ou não, eis aí uma ficção científica catastrofista que os cristãos egoístas e crentes encabrestados, sempre contrários à evolução humana e aos avanços tecnológicos, vão amar dizer: “Eu não falei?”; “Isso é que dá querer ser Deus!”; “Tecnologia é coisa do Diabo!”


O enredo “transcendental” traz Johny Depp na pele do Dr. Will Caster, um notável cientista cuja pesquisa sobre Inteligência Artificial o levou à criação de um computador que interage emocionalmente com os humanos. No entanto, a descoberta que amplia a área de aplicação da nanotecnologia acaba alvo de religiosos e de uma organização extremista antitecnologia e Will sofre um atentado. Ao vê-lo mortalmente ferido, os cientistas Evelyn Caster (Rebecca Hall), sua esposa, e Max Waters (Paul Bettany), seu amigo, decidem transferir a sua consciência para um supercomputador. Porém, ao se adaptar ao novo corpo, a consciência de Caster transcende e coisas inexplicáveis começam a acontecer no mundo.

Transcendence - A Revolução é dirigido por Wally Pfister, o diretor de fotografia e ganhador do Oscar por Origem (de Christopher Nolan, 2010), aquele plágio (?) do fascinante anime Páprika. Baseado no roteiro do também estreante Jack Paglen, o antiquado drama sci-fi começa falando dos avanços tecnológicos que podem melhorar a qualidade da vida humana. Todavia, na hora de engrenar o assunto, revolucionar o universo cyberpunk, a trama escorrega, se fere no chip e começa a claudicar, para delírio venturoso dos criacionistas. O bug no software acaba deixando a narrativa confusa, enfadonha e, com o apoio da insuportável onipresente música do atrito sonoro, digo, trilha sonora..., extremamente irritante.


Ainda que com resquícios de Geração Proteus (1977) e O Passageiro do Futuro (1992 e 1996), Transcendence - A Revolução (Transcendence, 2014) tem um “prólogo” bom, mas nada revolucionário, como sugere o título. Aliás, a função de “A Revolução”, no título, é um mistério.  A narrativa que pretende dialogar com o futuro, falar de intolerância, ignorância, poder..., fé cega e alma imolada na plataforma de tecnologia, acaba perdendo o tutorial e, sem rumo e sem noção do ridículo, deixa-se levar pela (con)fusão de ideias estapafúrdias (sobre tecnologia e religião), sem a menor coerência com o enunciado. Assim, quando se espera encontrar geeks, num grande templo tecnológico erguido (ou abaixado) no deserto, se defronta com um Vampiro Cibernético de Almas e seu “exército” de zumborgs (misto de zumbi com cyborg). Qualquer referência ao clássico Vampiros de Almas (1956) pode não ser mera coincidência. 

Enfim, considerando que Johny Depp interpreta mais um sujeito estranho e que a maioria do elenco está mais tonta que uma tumble weed rolando a esmo pelo oeste estadunidense; que, como diretor, Wally Pfister continua um excelente fotógrafo; que não consegui entender porque um “ser digital” precisa de óculos; que é um filme retrógrado e que em sua tolice transcende a toda e qualquer “lógica” sci-fi..., acredito que os cristãos e evangélicos (interpretando a seu favor, é claro) vão fazer coro com o profeta João Batista: “- Raça de víboras, quem vos recomendou fugir da ira que vem por aí?”

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