segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Crítica: Garota Exemplar


Levando em consideração que o título Garota Exemplar é uma ironia com a tal garota (desaparecida) do filme, este bem que podia ser chamado de Três Homens Imbecís e Uma Garota Idiota.  Não vi Garota Exemplar, na Cabine de Imprensa. Como estava muito ocupado, deixei passar. Mas de tanto ouvir falar que era o filme do ano e sabendo apenas de uma cena “referência” à Psicose (1960), de Hitchcock, e que as aparências enganam, decidi arriscar em uma sessão especial.

Mais uma vez acho que vi o filme errado. Já me aconteceu com O Som ao Redor..., expectativa frustrada. O Garota Exemplar (Gone Girl, 2014), de David Fincher, que, apesar da metragem, praticamente termina antes do fim do segundo ato, também me decepcionou. Filme do ano apenas para quem gosta da segurança do cinema lugar comum, que lembre outras produções e que pode ser desvendado em pouco tempo de projeção, causando ao espectador a (falsa) sensação de inteligência por tal (e)feito. Como se não bastasse assemelhar-se a um episódio longo e enfadonho de uma série policial estadunidense qualquer.


Baseado no livro homônimo de Gillian Flynn, que o roteirizou, o primeiro ato de Garota Exemplar trata do desaparecimento de Amy Dunne (Rosamund Pike), mulher de Nick Dunne (Ben Affleck), no quinto aniversário de casamento do casal (em crise), e a investigação policial. Um ato interessante, promissor (excetuando a insuportável e intrusiva musiquinha de lavagem cerebral, sempre decibéis acima dos diálogos). Nele, via flashbacks, a apresentação do bonito e pouco convincente casal de intelectuais: do flerte à rotina doméstica. A estrutura de episódio de série policial televisiva (talvez por isso a citação de Lei & Ordem) que permeia a narrativa nos “três” atos, aqui é maior: O marido é culpado ou não pelo desaparecimento da esposa?; O marido matou ou não a esposa? É claro que, num filme policial-clichê que se preze, todas as fichas são contra o marido. Logo, alguma coisa está fora de ordem e nas mãos da lei. Affleck, muito bem em cena, é o destaque.

O segundo ato é mais fraco (e fica pior com a insuportável e intrusiva musiquinha de lavagem cerebral sempre decibéis acima dos diálogos). Ele trata, entre outras revelações (nem tudo é o que parece!) e “viravoltas” (oh!), da leitura do diário comprometedor de Amy, que dá a atender que ela quer mais é que o circo pegue fogo e seu marido vire cinza. A sociopata que, assim como Fincher e Flynn, deve ter assistido ao Atração Fatal (1987) e ao Instinto Assassino I e II (1992 e 2006) um punhado de vezes, certa de que o crime compensa e uma boa cruzada de pernas tudo perdoa, não esconde suas intensões. Nem o diretor nos seus arremedos cinematográficos e embromação. A sensação de já visto, mulher fatal (loira burra e perigosa) versus homem basbaque, é incômoda.


As sequências em um motel de beira de estrada são amadoras: mal escritas, mal dirigidas, mal interpretadas. Ali, quando o ato que se arrasta enfadonho e sem a menor criatividade pelo palco tropeça num bolo de clichês, antes que possa se escorar em algo convincente, acaba. Infelizmente é o fim do segundo ato e não do “thriller”. Embora qualquer espectador (sem ter lido o livro e ou crítica-sinopse) saiba exatamente o que iria acontecer antes do tropeção e o que o espera dali em diante até o “terceiro” e definitivo final. Ah, eu não falei do segundo final? Não tem importância é tão idiota e previsível quanto o primeiro e, portanto, é melhor que decida (se é ou não convincente) por conta própria. Embora pareça contraditório, pensei bem e desisti dos spoilers que justificariam o meu mau humor.

O insistente “terceiro” ato (tão ruim que dá vontade de levantar e ir embora), que está mais para epílogo esticado, gira tonto (com a insuportável e intrusiva musiquinha de lavagem cerebral sempre decibéis acima dos diálogos) a conclusão do caso da desaparecida exemplar. Como o roteiro não é lá essas coisas (e assistir três vezes à mesma história de abuso sexual: entrevista, encenação e denúncia..., ninguém - que não é fã - merece), o destino previsível dos personagens (que vão emburrecendo a toque de caixa) é indiferente, ainda que sugira uma prequel (Ôps!) de A Guerra dos Roses (1989). Essa coisa de repetir cena é mania do diretor que mostra o que vai fazer, faz e refaz para ter certeza de que o espectador (idiota?) entendeu o que ele quis (?) dizer. Pena que ele não é o único!


A sensação contínua é a de que David Fincher nunca mergulha pra valer numa narrativa. Não vai ao cerne, não corta na carne e nem cura a ferida de “seus” personagens eternamente superficiais e, portanto, sem saber jamais a que vieram. Assim como eles não são reais (no agir e ou no falar) a violência coreografada não passa de entretenimento barato, incapaz de fazer alguém engasgar com uma pipoca ou gole de refrigerante. Tempestade em copo d’água que agrada os fãs pouco exigentes e cegos ao óbvio, já que não abandona a fórmula tediosa.

Garota Exemplar, com duas ou três piadas (prontas); trilha pastiche insuportável; crítica de ocasião à mídia sensacionalista, à tradição, família e patrimônio, à polícia (amiga?) inepta; ritmo claudicante; cópia chinfrim de série policial de tv..., embora com algumas boas atuações, não me satisfez!

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