domingo, 12 de abril de 2015

Crítica: Chappie


Eu sou alucinado por robôs desde criança. Vejo tudo quando é filme e anime (de robô) que encontro. É claro que não vi tudo, mas já vi um bom bocado. Também li contos fascinantes de ficção científica. Por mais que veja filmes e animações e ou leia histórias protagonizadas ou antagonizadas por robôs, a expectativa é a de que há sempre um novo viés a ser explorado. Quando penso a respeito, primeira lembrança é a do belo e melancólico anime Eve no Jikan (2010), de Yasuhiro Yoshiura. A animação fala de um futuro onde a identidade (e a necessidade) de robôs (semelhantes aos humanos) é colocada em xeque e, em meio à intolerância, discutida em um café secreto, onde a regra é a de que não haja discriminação entre androides e homens. Se gosta do tema, procure onde puder e assista ao antológico Eve no Jikan.


Isso posto, vamos ao que interessa, o sci-fi Chappie (Chappie, 2015), de Neill Blomkamp, diretor do surpreendente Distrito 9 (2009) e do instigante Elysium (2013), que me pareceu a continuação (não oficial) de D9. Roteirizado por Blomkamp e Terri Tatchell, este terceiro filme sugere (a mim) um prólogo ao Elysium. Talvez por desenhar os primeiros passos da robotização policial, norma em 2154 e a distinção (informal) de classes.

Chappie se passa no ano 2016, em Johannesburgo, onde, de um lado, a polícia se sente mais segura, no combate ao crime, tendo como escudo robôs policiais..., e por outro, engenheiros mecatrônicos como Deon Wilson (Dev Patel), em constante pesquisa para criar um robô inteligente, e Vincent Moore (Hugh Jackman), militar belicista, que não vê a hora de colocar nas ruas o seu robô exterminador chamado de Alce. No meio, dois criminosos “azarados” (pé de chinelo, mesmo) como Ninja e ¥o-Landi (Ninja e ¥o-Landi Vi$$er, dupla rap-rave da banda sul-africana Die Antwoord) que têm um plano: sequestrar um robô e reprogramá-lo para ajudar nos assaltos. A dupla até consegue seu intento, só não contava que a programação do robô, que a “mamãe” (¥o-Landi) chama de Chappie (Sharlto Copley), fosse tão complicada.


O argumento desta irônica fábula futurista é bom. Destaca-se pela pegada rousseauniana (bondade x corrupção) aplicada na reprogramação do androide Chappie que, ao adquirir consciência, fica dividido entre o modelo ético (do “pai criador” Deon) e o modelo imoral (do “pai sequestrador” Ninja). Um dilema interessante que deve encontrar eco no espectador adolescente, cuja personalidade também está em formação. O assunto (criminalidade, polícia, elite, capitalismo) aliás, não é de todo novidade na filmografia de Blomkamp, que curte efeitos especiais de ponta e muita pancadaria (violência!), mas sem desprezar o conteúdo.


Chappie tem algumas sequências adoráveis (pintura, ostentação, livro infantil), ótimas atuações e efeitos especiais de cair o queixo. O robô (criado a partir da captação de movimentos, na performance de Sharlto, e finalizado em CGI) é de um realismo impressionante. As discussões sociopolíticas e filosóficas (infinitude, identidade, personalidade) são pertinentes e atingem o alvo com seu humor amargo e, por vezes, nonsense. Algumas cenas revoltantes (de humor negro) levantam fagulhas: o que leva alguém a cometer atos criminosos?..., Todo crime merece castigo?..., O fim justifica o meio? Quanto à trilha sonora dramática, além de intrusiva, é um horror, mas a de ação é até aceitável, ainda que óbvia.


Agora, um porém: No todo, os destaques (acima) são pontuados. É que, sempre que se prepara pra decolar para o alto e além e indo onde nenhuma ficção jamais esteve, Chappie patina num roteiro (juvenil) que vai afrouxando e tropeçando num RoboCop (1987) aqui, num Blade Runner (1982) ali, e outros robôs memoráveis (em outras grandes produções, como Um Robô em Curto-Circuito, de 1986) acolá. É impossível não reconhecer as “referências” (ou seria semelhanças?) com os filmes citados, principalmente com RoboCop

Não creio que esse detalhe influencie o gosto do espectador comum que vai atrás de ação e aventura e não de referências a um filme de 30 anos atrás. A mim, as citações (não assumidas) ao RoboCop, foi o que mais incomodou. Não fosse isso, seria brilhante. O que não quer dizer que seja ruim..., apenas que, com o bom (e irônico) argumento, merecia um roteiro melhor lapidado.

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