Tomb
Raider: A Origem
por Joba Tridente*
Nunca fui um jogador de jogos eletrônicos..., nem de
ocasião. Conheço alguns de ouvir falar e de propaganda. Diante de um videogame me sinto totalmente fora de controle.
Um náufrago num tabuleiro revolto e sem farol. É mais fácil conduzir a minha
vida inconstante do que personagens diversos por labirintos digitais. O que não
quer dizer que não admire a evolução do desenho gráfico dos jogos e o
desenvolvimento dos roteiros que despertam a atenção de milhões de pessoas em
várias partes da Terra. Já assisti a uns dois ou três jogos transformados (na base do
corte, recorte e edição) em “animação” de longuíssima metragem (meio sem pé nem
cabeça, na verdade) por aficionados. Porém, quando um famoso jogo de ação e
aventura vira filme de telona e desperta a minha curiosidade, não penso na
história da plataforma original que desconheço (como outros milhares de
espectadores), mas naquela que está sendo contada agora, independente da
fidelidade a uma ideia original anterior. Plataforma nova, script novo. Acho que por isso gostei mais de Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois
Mundos, de Duncan Jones do que de Assassin’s
Creed, de Justin Kurzel.
O drama infantojuvenil de ação e aventura Tomb Raider: A Origem (Tomb Raider, 2018), com direção do
norueguês Roar Uthaug (A Onda) e roteiro (levemente inspirado
no jogo eletrônico de 2013) de Geneva Robertson-Dworet e Alastair Siddons, é a terceira
visita da heroína (sem habilidades sobre-humanas, mas dona de outras espertezas)
aos cinemas. Angelina Jolie viveu a personagem-título há 17 anos em Lara Croft: Tomb Raider e há 15 em Lara Croft: Tomb Raider - A Origem da Vida.
Lembra? Se não se lembrar não faz a menor diferença. Este novo capítulo de Tomb Raider, agora protagonizado por Alicia Vikander (Ex Machina, A Garota
Dinamarquesa), no físico de Lara
Croft, é assim, digamos, hmmm..., bem, um misto de Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (1981), de Steven Spielberg,
com filmes “B” de múmias e de ilhas misteriosas
perdidas em um mar qualquer...
Desta vez somos apresentados a uma aborrecida Lara de 21 anos. A pobre menina
biliardária que, sabe-se lá se pelo “trauma” do desaparecimento do seu excêntrico
pai Lord Richard Croft (Dominic West), há sete anos, e ou se por
rebeldia sem causa, pra não morrer de fome nas ruas do Est London, largou a
faculdade, trabalha como ciclista mensageira e treina MMA, possivelmente
esperando fazer fortuna (por conta própria) nos ringues. A vida da garota
triste (quase indigente) vai indo de mal a pior quando uma aposta de caça a
raposa, com outros ciclistas, acaba por devolvê-la à sua desprezada realidade
de herdeira bilionária e a uma pista de onde poderia estar o seu pai (dado como
morto). Movida mais pela emoção que pela razão, com a ajuda do barqueiro Lu Ren (Daniel Wu), ela parte em rumo a uma ilha mística, perdida no Mar do Diabo que “costeia” o Japão, onde
estaria enterrada a poderosa Rainha
Xamanista Himiko..., cujo legado maligno é cobiçado (é claro!) por um anônimo
chefe de sociedade secreta aspirante a senhor
capitalista do mundo.
Com muita ação e pouca convicção nas corridas de Lara pelas ruas, cais, florestas e túneis
sagrados, cansativos tiroteios e alguma luta corporal para justificar a
pancadaria do MMA no prólogo..., Tomb
Raider: A Origem tem um fiapo de história (sobrenatural), apenas o
suficiente para agradar o seu juvenil publico alvo. É tudo tão previsível (incluindo
o despertar argucioso e lutador de Lara)
e já visto em outros filmes ao estilo Indiana
Jones que você perde nada se precisar ir se aliviar no banheiro. Se a motivação
dos protagonistas não é lá essas coisas, a do insosso vilão Mathias Vogel (Walton Goggins), então, é de doer e não de temer.
Assim, considerando o ótimo elenco (bem esforçado no
manejo dos seus personagens inconsistentes); a trama preguiçosa e os diálogos
sofríveis (apenas pra costurar cenas); a ausência total de humor (embora tenha
umas duas soluções bônus de sobrevivência risíveis: paraquedas e ponte), o
mistério raso e a desculpa de todo filme de origem não precisar ser muito claro
a que veio (mesmo com personagem celebridade); o ritmo que vai do bom ao
claudicante..., levando em conta a notável qualidade dos efeitos especiais em
3D IMAX (as sequências da chegada do barco Endurance
à ilha e a da fuga pelo rio são excelentes), ainda que pouco envolvente para os
leigos, Tomb Raider: A Origem deve
agradar (ao menos) aos iniciados, desde que se contentem com uma narrativa que
tem nada a ver com a história do videogame
homônimo.
Ah, não é preciso esperar até o último crédito para a
cena “pegadinha” (dos próximos capítulos)..., ela vem logo em seguida do “fim”
do filme.
*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de
idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo),
em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista
e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico”
do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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