quinta-feira, 15 de março de 2018

Crítica: Tomb Raider: A Origem



Tomb Raider: A Origem
por Joba Tridente*

Nunca fui um jogador de jogos eletrônicos..., nem de ocasião. Conheço alguns de ouvir falar e de propaganda. Diante de um videogame me sinto totalmente fora de controle. Um náufrago num tabuleiro revolto e sem farol. É mais fácil conduzir a minha vida inconstante do que personagens diversos por labirintos digitais. O que não quer dizer que não admire a evolução do desenho gráfico dos jogos e o desenvolvimento dos roteiros que despertam a atenção de milhões de pessoas em várias partes da Terra. Já assisti a uns dois ou três jogos transformados (na base do corte, recorte e edição) em “animação” de longuíssima metragem (meio sem pé nem cabeça, na verdade) por aficionados. Porém, quando um famoso jogo de ação e aventura vira filme de telona e desperta a minha curiosidade, não penso na história da plataforma original que desconheço (como outros milhares de espectadores), mas naquela que está sendo contada agora, independente da fidelidade a uma ideia original anterior. Plataforma nova, script novo. Acho que por isso gostei mais de Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois Mundos, de Duncan Jones do que de Assassin’s Creed, de Justin Kurzel.


O drama infantojuvenil de ação e aventura Tomb Raider: A Origem (Tomb Raider, 2018), com direção do norueguês Roar Uthaug (A Onda) e roteiro (levemente inspirado no jogo eletrônico de 2013) de Geneva Robertson-Dworet e Alastair Siddons, é a terceira visita da heroína (sem habilidades sobre-humanas, mas dona de outras espertezas) aos cinemas. Angelina Jolie viveu a personagem-título há 17 anos em Lara Croft: Tomb Raider e há 15 em Lara Croft: Tomb Raider - A Origem da Vida. Lembra? Se não se lembrar não faz a menor diferença. Este novo capítulo de Tomb Raider, agora protagonizado por Alicia Vikander (Ex Machina, A Garota Dinamarquesa), no físico de Lara Croft, é assim, digamos, hmmm..., bem, um misto de Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (1981), de Steven Spielberg, com filmes “B” de múmias e de ilhas misteriosas perdidas em um mar qualquer...


Desta vez somos apresentados a uma aborrecida Lara de 21 anos. A pobre menina biliardária que, sabe-se lá se pelo “trauma” do desaparecimento do seu excêntrico pai Lord Richard Croft (Dominic West), há sete anos, e ou se por rebeldia sem causa, pra não morrer de fome nas ruas do Est London, largou a faculdade, trabalha como ciclista mensageira e treina MMA, possivelmente esperando fazer fortuna (por conta própria) nos ringues. A vida da garota triste (quase indigente) vai indo de mal a pior quando uma aposta de caça a raposa, com outros ciclistas, acaba por devolvê-la à sua desprezada realidade de herdeira bilionária e a uma pista de onde poderia estar o seu pai (dado como morto). Movida mais pela emoção que pela razão, com a ajuda do barqueiro Lu Ren (Daniel Wu), ela parte em rumo a uma ilha mística, perdida no Mar do Diabo que “costeia” o Japão, onde estaria enterrada a poderosa Rainha Xamanista Himiko..., cujo legado maligno é cobiçado (é claro!) por um anônimo chefe de sociedade secreta aspirante a senhor capitalista do mundo.


Com muita ação e pouca convicção nas corridas de Lara pelas ruas, cais, florestas e túneis sagrados, cansativos tiroteios e alguma luta corporal para justificar a pancadaria do MMA no prólogo..., Tomb Raider: A Origem tem um fiapo de história (sobrenatural), apenas o suficiente para agradar o seu juvenil publico alvo. É tudo tão previsível (incluindo o despertar argucioso e lutador de Lara) e já visto em outros filmes ao estilo Indiana Jones que você perde nada se precisar ir se aliviar no banheiro. Se a motivação dos protagonistas não é lá essas coisas, a do insosso vilão Mathias Vogel (Walton Goggins), então, é de doer e não de temer.


Assim, considerando o ótimo elenco (bem esforçado no manejo dos seus personagens inconsistentes); a trama preguiçosa e os diálogos sofríveis (apenas pra costurar cenas); a ausência total de humor (embora tenha umas duas soluções bônus de sobrevivência risíveis: paraquedas e ponte), o mistério raso e a desculpa de todo filme de origem não precisar ser muito claro a que veio (mesmo com personagem celebridade); o ritmo que vai do bom ao claudicante..., levando em conta a notável qualidade dos efeitos especiais em 3D IMAX (as sequências da chegada do barco Endurance à ilha e a da fuga pelo rio são excelentes), ainda que pouco envolvente para os leigos, Tomb Raider: A Origem deve agradar (ao menos) aos iniciados, desde que se contentem com uma narrativa que tem nada a ver com a história do videogame homônimo.

Ah, não é preciso esperar até o último crédito para a cena “pegadinha” (dos próximos capítulos)..., ela vem logo em seguida do “fim” do filme.


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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